Filme sobre falta de privacidade na era da tecnologia é batido e sem graça

'Anon' surfa na onda Orwelliana, com uma história policial passada

André Barcinski
São Paulo

Anon

  • Onde Netflix
  • Classificação 16
  • Elenco Clive Owen, Afiya Bennett, Morgan Allen
  • Produção EUA, 2018

A série de TV “Black Mirror” está fazendo sucesso com tramas distópicas sobre tecnologia e vigilância virtual. “Anon”, longa-metragem exibido pelo Netflix, busca surfar na mesma onda Orwelliana, com uma história policial passada numa era onde as vidas de todos os cidadãos são gravadas e arquivadas.

Clive Owen faz um policial, Sal Frieland, que investiga uma série de assassinatos misteriosos. Até ali, o trabalho de Frieland era moleza: numa sociedade onde tudo é gravado e as memórias e visões de todos os cidadãos estão disponíveis para consulta, basta ao policial assistir ao arquivo visual da vítima, identificar o criminoso, e solucionar o crime.

Mas esses novos crimes são um desafio, porque as memórias das vítimas foram “hackeadas” e as imagens, apagadas. Mesmo assim, não demora muito para Frieland identificar uma mulher misteriosa (Amanda Seyfried) como autora dos crimes. O policial vai atrás da mulher e passa a ser perseguida por ela.

O tema principal de “Anon” é a ausência de privacidade. Estamos no futuro, em um mundo onde governos vigiam seus cidadãos o tempo todo. Não é exatamente um assunto novo e, se não for tratado de forma criativa e interessante, periga soar redundante e velho.

A atriz Amanda Seyfried em cena de 'Anon'
A atriz Amanda Seyfried em cena de 'Anon' - Divulgação

É exatamente o que acontece com “Anon”: o tema é batido e a forma, sem graça. É uma trama policial, mas sem ação, suspense ou surpresa.

O filme parece mais interessado em mostrar as mil formas como a assassina consegue manipular a realidade —confundindo o policial com imagens virtuais falsas, apagando suas memórias e incluindo memórias falsas—  do que em criar uma trama minimamente ágil e interessante.

Para piorar, tem no policial vivido por Clive Owen um personagem fraco e sem sal, que oscila entre o sonolento e o aparvalhado.

O filme foi escrito e dirigido pelo neozelandês Andrew Niccol, responsável por vários filmes de ficção-científica que lidam com temas como eugenia, realidade virtual e sociedades que monitoram cidadãos.

Niccol dirigiu “Gattaca” (1997) e “Simone” (2002), e roteirizou “O Show de Truman” (1998), de Peter Weir, em que Jim Carrey faz um homem que, sem saber, é a atração principal de um “reality show” na TV.

O ator Clive Owen em cena de 'Anon'
O ator Clive Owen em cena de 'Anon' - Divulgação

Niccol também dirigiu o ótimo “O Senhor das Armas” (2005), com Nicholas Cage no papel de um traficante de armas. Nesse filme, o diretor abandonou os temas futuristas e distópicos, mas conseguiu criar uma trama envolvente e cheia de suspense. Pena que não fez o mesmo em “Anon”.

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