Descrição de chapéu Cinema

Godard e outros habitués começam a competir nesta terça (8) em Cannes

Nomes como Asghar Farhadi, Hirokazu Kore-eda e Matteo Garrone voltam a disputar Palma de Ouro

Guilherme Genestreti
Cannes (França)

"Nada, exceto o silêncio; nada, exceto uma canção revolucionária." A descrição etérea é tudo o que se sabe sobre "Le Livre d'Image". O novo filme de Jean-Luc Godard é um dos 21 títulos que competirão no Festival de Cannes a partir desta terça (8).

O mesmo mistério que cerca o longa do diretor octogenário vai permear a 71ª edição da mostra de cinema mais prestigiosa do calendário.

As sessões de imprensa, que até o ano passado ocorriam horas antes das exibições de gala, agora vão acontecer ao mesmo tempo que essas. Com isso, o fator surpresa fica garantido até a última hora.

Do filme de Godard, que há 50 anos boicotou Cannes em solidariedade aos protestos de Maio de 68, deve-se esperar algo mais próximo de seu "Adeus à Linguagem" (2014) do que de sua produção dos anos 1960. Isto é, implosão da narrativa tradicional e ruminação intelectual profunda.

Godard encabeça uma lista de habitués do certame francês. Nomes como Asghar Farhadi, Jia Zhang-ke, Hirokazu Kore-eda e Matteo Garrone voltam neste ano a disputar a Palma de Ouro.

Farhadi, vencedor do Oscar pelos dramas naturalistas ambientados em seu país "A Separação" e "O Apartamento", arrisca-se agora num filme de gênero e falado em espanhol. "Todos lo Saben", suspense psicológico com Penélope Cruz, Javier Bardem e o argentino Ricardo Darín, abre a competição nesta terça-feira.

Já o americano Spike Lee, que competiu pela última vez com "Febre da Selva" (1991), engrossa o caldo de sua filmografia de voltagem racial com "BlacKkKlansman", baseada na história real de um negro que se infiltrou nas fileiras da Ku Klux Klan.

Falando em voltar às raízes, "Dogman" fará o italiano Garrone tornar a explorar a violência de gângsteres que ele já retratou em "Gomorra".

Mas o páreo que começa nesta terça não será só dos habitués. Quase metade dos diretores na disputa nunca competiu pela Palma de Ouro. É o caso, por exemplo, do americano David Robert Mitchell, mais conhecido pelo terror "Corrente do Mal" (2014).

Aqui, Mitchell investe em "Under the Silver Lake", misto de thriller e comédia de humor negro\ em torno de um rapaz (Andrew Garfield) que lida com o sumiço da garota por quem está interessado.

Brasil tem novo longa de Cacá Diegues e filmes amazônicos

O Brasil não compete à Palma de Ouro neste ano, mas três longas nacionais integram outras seções do festival.

Na mostra Um Certo Olhar, dedicada à experimentação da linguagem, o país é representado por "Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos", filme com a mesma temática indígena que tem feito a produção brasileira circular por outros festivais estrangeiros.

O longa do português João Salaviza e da paulistana Renée Nader Messora trata de um jovem da etnia krahô que tem encontro com o espírito de seu pai.

Para Messora, as demandas políticas dos povos nativos do Brasil "se misturam com as demandas que vêm de fora, como a da defesa das florestas", diz.

Também é ambientado na Amazônia outro dos títulos brasileiros. A ficção "Los Silencios", de Beatriz Seigner, é uma coprodução filmada na fronteira com a Colômbia que integra a seção Quinzena dos Realizadores. "Foi quase um 'Fitzcarraldo'", brinca a diretora, citando a tumultuada filmagem de Werner Herzog na Amazônia.

Cacá Diegues verá seu mais recente filme, "O Grande Circo Místico", estrear em sessão especial, uma homenagem ao alagoano de 77 anos que já competiu três vezes em Cannes.

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