Mal de Parkinson serviu de impulso a Paulo José, dizem diretores de documentário

Longa 'Todos os Paulos do Mundo' expõe as seis décadas de atividades do ator e diretor

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Gabriel Bosa
São Paulo

O diagnóstico de mal de Parkinson no início da década de 1990 poderia ser o encerramento da carreira de Paulo José, 81.

Ao contrário, o ator e diretor tirou do infortúnio a disposição para aumentar e melhorar a sua produção.

Essa foi uma das análises dos participantes do debate sobre a trajetória do artista, nesta segunda-feira (7), após pré-estreia do filme “Todos os Paulos do Mundo”, realizado pela Folha, no Espaço Itaú de Cinema do Shopping Frei Caneca.

O ator Paulo José em cena do documentário "Todos os Paulos do Mundo" (Brasil, 2018), de Gustavo Ribeiro e Rodrigo de Oliveira
O ator Paulo José em cena do documentário "Todos os Paulos do Mundo" (Brasil, 2018), de Gustavo Ribeiro e Rodrigo de Oliveira - Divulgação

“A doença serviu de impulso. Em vez de se resguardar, ele começou a fazer só aquilo que importava para ele”, disse Gustavo Ribeiro, que, ao lado de Rodrigo de Oliveira, assina a direção do documentário.

Segundo eles, a doença era usada como brincadeira em meio às conversas sobre a produção do filme.

“Já vi Paulo José falando que tem um ‘parkinson de diversões’. Falar uma frase desta mostra um esforço tremendo para ir em frente”, disse Ribeiro.

O longa apresenta os principais personagens do ator e diretor ao longo de seis décadas de atividades. De acordo com as contas do próprio artista, foram mais de 18 peças, 40 filmes, 15 novelas, cinco seriados e 20 teledramas.

Em meio às imagens de arquivo, “Todos os Paulos do Mundo” traz reflexões e trechos de entrevistas do protagonista, narradas pelo ator e por ícones das artes cênicas brasileiras, como Milton Gonçalves, Helena Ignez, Fernanda Montenegro, entre outros.

O filme terá estreia oficial nesta quinta-feira (10). Uma ação entre a distribuidora Vitrine Filmes e a Petrobras levará o longa para 20 cidades brasileiras a preços especiais.

OLHAR CARACTERÍSTICO

Paulo José Gómez de Souza nasceu em Lavras do Sul (RS), em 1937. Com 10 anos, ao atuar em uma peça da escola e sugerir uma mudança no espetáculo – aceita de pronto pelo professor -, se descobriu como ator e diretor, afirmou o artista em um trecho do filme.

Mudou-se para São Paulo em 1961, a convite do Teatro de Arena. A estreia nos palcos foi na peça Testamento de um Cangaceiro, de Chico de Assis.

Nos palcos conheceu Dina Staf (1938-1989), com quem foi casado e dividiu inúmeras cenas. Também se casou com as atrizes Beth Caruso e Zezé Polesa. Atualmente é casado com a figurinista Kika Lopes.

A trajetória no cinema teve início em 1965, como protagonista em “O Padre e A Moça”, de Joaquim Pedro de Andrade. O papel, um marco na carreira do ator, por pouco não aconteceu, explicou a atriz e parceira de cena, Helena Ignez.

Segundo ela, o personagem principal seria interpretado por Luiz Jasmim, mas precisou ser substituído por problemas de saúde.

“Lembramos do Paulo José, que foi perfeito para o papel. Assim começamos a nossa amizade, ficou uma relação de um afeto muito puro durante esses mais de 50 anos em que nos conhecemos.”

O avanço da enfermidade afastou gradativamente Paulo José das atividades artísticas. O seu último papel foi na novela da Rede Globo “Em Família”, em 2014, interpretando justamente um personagem diagnosticado com mal de Parkinson.

Mesmo sem projetos para voltar à cena, o artista se mantém ativo em um grupo de estudos de cinema, com encontros semanais em sua casa, no Rio de Janeiro.

Para o colunista da Folha e mediador do debate, Tony Goes, o filme se destaca por trazer o olhar do ator em meio a diversos personagens.

“Você vê que tem uma pessoa o tempo inteiro, que está pensando, que está no personagem. Tem o Paulo como criança, mulher, mas, ao mesmo tempo, é sempre ele. Esse olhar dele é muito impressionante.”

A produção do longa levou pouco mais de um ano para ser concluída. Segundo os responsáveis, parte da agilidade se deu pelo bom relacionamento do personagem no meio artístico.

“Quem quer que a Fernanda Montenegro te atenda no dia seguinte ao você ligar é só falar que é o Paulo que está pedindo”, brincou Oliveira.

O ator também participou ativamente da produção. No início, a montagem era feita em Vitória (ES), mas no último mês foi transferida para o Rio de Janeiro para maior envolvimento do personagem.

Os diretores revelaram que um dos pedidos de Paulo José foi que cenas icônicas de seu trabalho fossem substituídas por outras não conhecidas pelo grande público.

“A gente queria contar a história da figura, do que quer que seja a verdade de Paulo José, através da ficção. A gente sabia que o Paulo é um dos poucos atores em que isso é possível e que a gente encontraria nos filmes não só coisas que dissessem sobre aqueles personagens, mas sobre ele mesmo”, afirmou de Oliveira.

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