Descrição de chapéu humor

'Monty Python's Flying Circus', que levou humor na TV ao extremo, chega à Netflix

Atração do grupo britânico, exibida entre 1969 e 1974, abdicava de bordões e cortava piadas ao meio

Trupe remonta cena de esquete sobre um barbeiro traumatizado que canta sobre sua verdadeira vocação: ser um lenhador - Divulgação
André Barcinski
Paraty

"Monty Python's Flying Circus", um dos grandes programas cômicos da TV está finalmente disponível, na íntegra, para o público brasileiro. A Netflix incluiu em seu catálogo os 45 episódios da atração do grupo humorístico britânico Monty Python.

Exibido pela BBC em quatro temporadas, entre 1969 e 1974, "Flying Circus" inovou o humor televisivo com seu humor surrealista e nonsense.

Na contramão da comédia de TV da época, na atração do grupo britânico não havia bordões ou imitações de políticos ou celebridades; piadas não acabavam, mas eram cortadas abruptamente por desenhos animados esquisitíssimos, em que freiras tiravam a roupa e policiais voavam pelos ares como pássaros.

O Monty Python era um sexteto formado por cinco britânicos —John Cleese, Eric Idle, Michael Palin, Terry Jones e Graham Chapman (1941-89)— e um americano, Terry Gilliam.

Todos cursaram universidades prestigiosas: Jones e Palin se conheceram em Oxford; Cleese, Chapman e Idle, em Cambridge. Gilliam se formou em ciências políticas no Occidental College, em Los Angeles, e conheceu John Cleese em Nova York, quando o segundo participava da turnê de um grupo estudantil de teatro de Cambridge.

Depois de um tempo atuando e escrevendo para grupos de teatro de Oxford e Cambridge, os integrantes do que viria a ser o Monty Python passaram por empregos de redatores e roteiristas em programas de rádio e TV até receberem a incumbência da BBC de criar um novo programa humorístico para as noites de domingo.

Cena do filme 'Monty Python e o Sentido da Vida', de 1983 - Divulgação

O primeiro episódio estreou às 23h de domingo, 5 de outubro de 1969, e foi um desastre de audiência. Em reuniões internas, executivos da BBC classificaram o programa de "nojento" e "acima do limite do aceitável".

Por pouco, "Flying Circus" não foi cancelado depois de apenas um episódio. Mas a emissora insistiu, e o público inglês começou a captar a estranheza do programa.

Os comediantes reconhecem a ousadia da BBC. No livro de entrevistas "Monty Python, Uma Autobiografia", Terry Jones diz: "A BBC orgulhosamente não só ignorava os roteiros como não conferia os episódios antes de serem transmitidos (...) Nenhuma outra organização teria deixado o Python impune".

Michael Palin completa: "Dava para tirar proveito desse nível de audácia e liberdade. Lembro que fazia muito bem para o nosso estado de espírito, era o que queríamos fazer há anos. Nem tudo funcionou, mas o sentimento geral era de que dava para imaginar de tudo, de que quase toda ideia era factível. Não havia regras nem limites".

Um dos quadros mais famosos do grupo é o do "Papagaio Morto", em que John Cleese volta a uma loja de animais para reclamar que o dono do lugar (Michael Palin) o vendeu um papagaio morto.

O texto ficou tão famoso que até a primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, não exatamente um ícone da comédia, replicou trechos inteiros num discurso em 1990, ironizando o pássaro do logotipo do Partido Liberal Democrata.

"Flying Circus" era diferente de tudo que se tinha visto em TV até então. Humor daquele tipo, bizarro e surrealista, já existia no rádio, especialmente num programa genial da BBC chamado "The Goon Show", com Spike Milligan e Peter Sellers, que durou de 1951 a 1960 e influenciou muito a trupe dos Pythons.

Mas ninguém havia levado essa estranheza para a TV daquela forma.

O programa era tão diferente que telespectadores ligavam para a BBC reclamando de cortes que o tornavam ininteligível. Mas o programa era assim mesmo, com um quadro emendado no outro, e muitos deles sem conclusão. Uma cena de tribunal poderia ser interrompida pela entrada de Genghis Khan ou Napoleão. Nada era estranho demais para o Monty Python.

Mas até a ousadia cansa, e os integrantes da trupe, especialmente John Cleese, logo perceberam que estavam se repetindo. Ele abandonou "Flying Circus" depois da terceira temporada, e a quarta teve só seis episódios.

Mas o fim do programa de TV incentivou o sexteto a investir no cinema, o que resultou em três comédias extraordinárias: "Monty Python e o Cálice Sagrado" (1975), "A Vida de Brian" (1979) e "O Sentido da Vida" (1983).

Os filmes da trupe também entraram para o acervo da plataforma Netflix.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.