Descrição de chapéu
Moda

Mostra em Nova York prova que catolicismo é a mais longeva das tendências

Boa parte do guarda-roupa ocidental é influenciado pela religião

Pedro Diniz
São Paulo

Antes de atirar a primeira pedra no tema da exposição do Met, o teste do espelho cairia bem. Boa parte do guarda-roupa ocidental é influenciado pela religião, tendência mais longeva do Ocidente.

O azul virou cor de menino no pós-Guerra, mas antes o celeste era vinculado às garotas por causa do manto de Maria; o branco básico, signo de pureza, tem relação direta com a ressurreição de Cristo.

O museu apenas amplia o entendimento sobre essas influências e as coloca ao lado de ideias correlatas que saltam nas passarelas desde o século 20. Gola-padre, rendas e cores baseadas na liturgia católica são outros exemplos de como a religião influiu nas tendências ao longo dos séculos.

Desde a criação da indústria da alta-costura, países de maioria católica ditam a moda e, naturalmente, o luxo foi tomado pela iconografia cristã.

O espanhol Cristóbal Balenciaga (1895-1972), a francesa Madame Grès (1903-1993) e a italiana Elsa Schiaparelli (1890-1973) foram seminais na difusão do imaginário católico na moda. Seus legados influenciaram as grifes modernas e, com a cultura de massa, os símbolos se tornaram pop.

Hoje, o ápice dessa reza está na italiana Dolce & Gabbana. No último desfile, em fevereiro, durante a semana de moda de Milão, a grife construiu um altar cheio de anjos para o desfile "Devoção Fashion".

O italiano Riccardo Tisci fez antes. Na Givenchy, costurou estampas de santos e anjos em vestes nada humildes. Antes dele, Versace (1946-1997) pôs cruzes e madonas em seu prêt-à-porter hipersexualizado.

O papa Bento 16 e seus sapatos vermelhos - Jason Reed - 15.abr.2008/Reuters

Mas o suposto pecado não é só da moda. O atual papa, Francisco, pode pregar a vida humilde, mas seu antecessor, Bento 16, ficou marcado como o "papa fashion". Em 2007, a revista Esquire o colocou entre os mais bem-vestidos do mundo, e, em 2013, a internet veio abaixo quando se creditou à grife Prada a origem de seus sapatos vermelhos.

O Vaticano negou o capricho papal, mas o episódio ilustra o principal mandamento da moda —e também o da exposição—, que diz que até o mais santo dos homens pode cair em tentação.

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