Quando veio ao Brasil pela primeira vez, em 1964, a italiana Rita Pavone ficou assustada ao descer do avião, no Rio. A polícia cercou o avião para controlar uma multidão de fãs, numa cena que lembra os contemporâneos Beatles. Aos 19 anos, já era uma estrela internacional da música.

"Guardo com carinho uma foto desse dia, com minha mãe andando a meu lado com uma expressão orgulhosa. Ela tinha imaginado para mim uma vida como era o padrão das moças da época, de estudar um pouco e se casar."

A artista de 72 anos que se apresenta nesta quinta (17) em São Paulo não tem mesmo uma vida dentro de padrões. Numa época de intensa internacionalização da música italiana, ela se tornou uma cidadã do mundo, famosa por canções pop agitadas como "Cuore" e "Datemi un Martello", ainda hoje seu maior sucesso, ou uma balada dramática como "Fortissimo".

Ela considera impossível explicar como isso aconteceu. Descoberta por produtores, com sua voz aguda, peculiar, e muito bonita em seu tipo mignon, ganhou popularidade imediata. "Fui dormir uma pessoa normal, tentando ser cantora, e acordei uma princesa. Um sonho que parecia impossível de se realizar."

Rita acredita que hoje seus shows atraem várias gerações. "Há pessoas que viveram emoções com minhas músicas há 50 anos. Mas não gosto de viver no passado, de fazer shows nostálgicos. Quero sempre arriscar coisas novas. Não vou cantar um rap, eu não consigo, mas quero desafios", diz, rindo.

Se a música italiana atual não tem o mesmo impacto fora de seu país, a cantora credita isso à ausência de bons compositores. "Hoje o artista sabe um pouco de piano, consegue um sucesso e se acomoda. Na Itália, houve época em que um disco de platina era dado com a venda de cinco milhões de cópias. Agora, bastam 50 mil."

Na atual geração de cantoras de sucesso internacional, ela gosta muito de Adele, Katy Perry e, em especial, Lady Gaga. "Acompanho de perto e ela está em constante evolução."

No show em São Paulo, promete sucessos. Mas acredita que a mistura com material mais recente mostre uma nova Rita Pavone. "Não é o caminho mais fácil, eu sei. Cantar só sucessos antigos seria tranquilo, mas acho que as pessoas estão me recebendo muito bem."