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Sensação de 'déjà vu' domina novo filme do diretor polonês de 'Ida'

Pawel Pawlikowski repete em 'Cold War' formatos para narrar história de amor

Cena do filme 'Cold War', de Pawel Pawlikowski, em competição no Festival de Cannes 2018
A atriz Joanna Kulig em cena de ‘Cold War’, que concorre à Palma de Ouro - Divulgação
Guilherme Genestreti
Cannes (França)

Vencedor do Oscar de filme estrangeiro por "Ida", o cineasta polonês Pawel Pawlikowski repetiu o rigor estético em "Cold War", que compete no Festival de Cannes. Mas não conseguiu livrar o novo rebento da sombra do antecessor bem-sucedido.

Quando as cortinas do cinema se descerraram na sessão de imprensa, na sexta (11), logo ficou evidente que o diretor voltaria ao mesmo formato de projeção quase quadrado que distingue "Ida".

Há diversas semelhanças, como o preto e branco e a composição precisa das cenas. As primeiras imagens de "Cold War" (guerra fria, em tradução livre) repetem também o contexto: uma Polônia que se reergue dos escombros da Segunda Guerra, agora sob o jugo do regime comunista.

Pawlikowski, 60, pega emprestado o nome de seus pais e o momento histórico em que eles se conheceram para contar o romance entre dois músicos, Zula (Joanna Kulig) e Wiktor (Tomasz Kot), vindos de universos bem distintos.

Ele, mais velho, vaga pelo país registrando músicas folclóricas; ela é uma aspirante a cantora de presença magnética e passado misterioso.

À procura de talentos regionais em tempos nos quais o novo regime quer exaltar o homem do campo, Wiktor se encanta por Zula, mesmo sabendo que ela pode (ou não) ter matado o pai, que a estuprava.

O amor deles é narrado por meio de episódios ambientados em épocas e lugares distintos, legando ao espectador a tarefa de preencher vazios.

A narrativa elíptica, porém, pode explicar por que "Cold War" não consegue fazer com que o público sinta empatia pelo casal de protagonistas. Para o site especializado Indie Wire, por exemplo, trata-se de "uma das mais vazias histórias de amor já contadas".

Outro filme que concorre à Palma de Ouro deste ano também tem gosto de "déjà vu".

Com "Plaire, Aimer et Courir Vite" (agradar, amar e correr rápido, em tradução livre), Christophe Honoré vai ao mesmo cenário que o conterrâneo Robin Campillo trouxe ao festival no ano passado, em "120 Batimentos por Minuto": a Paris do começo dos anos 1990, quando a Aids ceifava a vida de gays franceses às dezenas.

Cena do filme 'Plaire Aimer et Courir Vite', de Christophe Honoré, em competição no Festival de Cannes 2018
Cena do filme 'Plaire Aimer et Courir Vite', de Christophe Honoré, em competição no Festival de Cannes 2018 - Divulgação

Se Campillo levava o tema para a arena política, com o grupo militante Act Up, Honoré fica em sua seara favorita, a dos impasses amorosos.

Jacques (Pierre Deladonchamps) é um escritor hedonista na casa dos 30 e poucos anos que mantém affaires com homens mais novos, mas tem horror a criar laços —é soropositivo e não quer um "último romance".

Mas ele topa com um efebo irresistível, um estudante de cinema de 22 anos e olhar melancólico, vinda da Bretanha —a região no noroeste da França, onde o direto nasceu, é outra de suas obsessões. Aí os planos de Jacques desandam.

Honoré afirma que quis prestar uma homenagem a ídolos da época em que ele também tinha seus 20 e poucos anos e se mudou para Paris. Há várias citações no filme ao dramaturgo Bernard-Marie Koltès, morto em 1989 em decorrência do HIV, mas também a Arthur Rimbaud, Jean Genet e outros "enfants terribles" de sexualidade ambígua da cultura francesa.

 

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