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Temporada de ópera começa tardiamente em São Paulo

Theatro São Pedro apresenta "O Matrimônio Secreto", e o Municipal, "La Traviata"

Sidney Molina
São Paulo

Há temporada lírica em São Paulo? Se tomarmos como base o período de maio a novembro deste ano, a resposta é sim.

As duas principais casas de ópera da cidade, Theatro Municipal e Theatro São Pedro, apresentarão oito títulos nos próximos sete meses.

O início em maio, entretanto, é muito tardio. Cinco meses é tempo suficiente para desmontar a continuidade de qualquer atividade, o que, neste caso, significa que cantores, regentes, diretores e encenadores não circulam, orquestras e coros não praticam o gênero, o público não tem como se programar.

Para quem não frequenta o teatro lírico regularmente, é importante notar que, numa cidade como São Paulo, a ópera atrai audiência numerosa e fiel: os ingressos não são caros (considerando a quantidade de profissionais envolvidos) e vendem com rapidez —o que parece não depender muito dos administradores públicos do momento. Até a conclusão desta edição ainda havia ingressos disponíveis para as duas montagens.

Nesta sexta-feira (4), o Theatro São Pedro estreia "O Matrimônio Secreto", de Domenico Cimarosa (1749-1801), compositor pouco tocado hoje em dia, mas extremamente popular em sua época. Serão cinco récitas até dia 13.

Trata-se de uma comédia que oferece a oportunidade de diferentes combinações musicais (como duos e trios) entre os personagens. A encenação é de Caetano Vilela, e a regência de Valentina Peleggi (atual titular do Coro da Osesp). O elenco traz a soprano Caroline de Comi no papel de Carolina e o baixo Pepes do Valle como o velho Geronimo.

Na próxima semana, a partir do sábado (12), o Theatro Municipal faz a primeira das oito apresentações em São Paulo de "La Traviata", de Giuseppe Verdi (1813-1901), que contará com direção cênica de Jorge Takla e regência de Roberto Minczuk, maestro titular da Orquestra Sinfônica Municipal.

A produção foi originalmente concebida para o Palácio das Artes, em Belo Horizonte, onde foi apresentada no mês passado, o que mostra uma saudável permuta entre as duas principais capitais da música clássica no Brasil hoje.

Violetta será interpretada pelas sopranos Nadine Koutcher e Jaquelina Livieri (nesses casos é costume haver alternância de cantores em récitas consecutivas) e Alfredo, pelos tenores Fernando Portari e Georgy Vasiliev. Germont estará a cargo dos barítonos Paulo Szot e Leonardo Neiva.

Será uma ótima ocasião para ver juntos em cena Portari e Szot, cantores que estão entre os mais importantes do país em seus registros.

Ao contrário da montagem atemporal de Daniele Abbado (feita no Municipal em 2012), a ideia de Takla é se manter no contexto da época, isto é, a segunda metade do século 19.

Verdi controla a relação dramática entre música e teatro desde a abertura: baseada em "A Dama das Camélias", de Dumas Filho (1824-95), a história do amor quase impossível entre uma prostituta de luxo e um burguês é exemplo acabado do que o gênero pode oferecer de complexidade psicológica e fusão entre linguagens.

Se a quantidade de títulos na temporada poderia ser maior, a escolha das obras reflete coerência e adequação aos espaços. As produções dos próximos meses também contarão com alguns dos principais diretores cênicos brasileiros, como Iacov Hillel, André Heller-Lopes e William Pereira.

Assim, ao lado de Verdi, o Municipal trará obras ambiciosas de Richard Strauss, Debussy e Puccini, enquanto que o São Pedro —casa menor, e que recentemente teve a orquestra drasticamente reduzida— busca soluções criativas e estilisticamente diversificadas com o clássico Cimarosa, o barroco Handel e os contemporâneos Janácek e Britten.

 

O Matrimônio Secreto

Theatro São Pedro, r. Barra Funda, 161, tel (11) 3661-6600. Sex (4), qua. (9) e sex. (11), às 20h; dom. (6 e 13), às 17h. De R$ 15 a R$ 80, 8 anos.

 

 

La Traviata

Theatro Municipal, pça. Ramos de Azevedo, s/n., tel (11) 3053-2100. Sáb. (12), seg. (14), de qua. a sex. (18), seg. (21) e qua. (23), às 20h; dom. (13), às 18h. De R$ 20 a R$ 150, 10 anos.


Saiba mais sobre a temporada lírica 2018

No Theatro São Pedro, após 'O Matrimônio Secreto', serão apresentadas ainda 'Alcina, de Handel (junho); 'Kátia Kabanová', de Janácek (agosto); e 'Sonho de uma Noite de Verão', de Britten (novembro)

No Theatro Municipal, depois de 'La Traviata', virão 'O Cavaleiro da Rosa', de Richard Strauss (junho); 'Pelléas et Mélisande', de Debussy (outubro); e 'Turandot', de Puccini (novembro)

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