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Cinema

'Uma Escala em Paris' agrada os dispostos a entrar em espiral patológica

Diretor americano Nathan Silver destila cinefilia em filme sobre mulher dependente de amor

CENA DE Uma escala em Paris
A atriz Lindsay Burdge em cena de 'Uma Escala em Paris' - Divulgação
Sérgio Alpendre

Uma Escala em Paris (Thirst Street)

  • Quando Estreia na quinta (24)
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Lindsay Burdge, Esther Garrel, Damien Bonnard
  • Produção França/EUA, 2017
  • Direção Nathan Silver

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Produção franco-americana dirigida por Nathan Silver, diretor independente americano ainda pouco conhecido no Brasil, "Uma Escala em Paris" alterna altos e baixos alucinadamente, e por vezes dentro de uma única cena.

Gina (Lindsay Burdge) é uma aeromoça americana desiludida com o amor que, por artimanha de suas colegas de trabalho, consulta uma cartomante e descobre que irá se envolver com um homem com alguma coisa no olho.

Numa breve estadia em Paris, ela conhece Jérôme (Damien Bonnard), balconista de uma casa noturna com uma irritação estranha no olho. Apaixona-se por ele e experimenta um pouco do amor louco que existe em tantos filmes franceses.

Ao saber que Jérôme tem uma namorada, vai fazer de tudo para se intrometer entre eles. Não é bem ciúme o que ela sente, mas uma dependência patológica do homem que elegeu como alvo de seu afeto.

O filme parece um remake disfarçado do bem superior "À Sombra de Duas Mulheres" (2015), de Philippe Garrel, em que um homem é atormentado pela amante —o velho mote de "Aurora" (1927), clássico de F.W.Murnau.

O fato de a namorada de Jérôme, Clémence, ser interpretada por Esther Garrel, filha de Philippe, não nos parece obra do acaso. Estamos de fato em um filme em que um diretor americano faz sua homenagem ao cinema.

Um dos maiores riscos do longa é a construção da personagem de Gina. Em alguns momentos, sentimos raiva dela. Em outros, sentimos pena, o que é pior. O que se sobressai, contudo, é um sentimento ambíguo, que passa pelo desejo de que ela aprenda a ser mais independente.

Nathan Silver destila sua cinefilia por todo o filme. Jacques Nolot, grande diretor francês, é o dono bonachão da casa noturna onde Jérôme, e por um tempo também Gina, trabalham.

Há uma citação explícita de "Uma Chama no Meu Coração", um dos filmes mais famosos do suíço Alain Tanner, sobre uma mulher dependente do amor, como Gina.

Há também algumas gorduras, cenas meio deslocadas, apesar da duração enxuta. A segunda sessão com a cartomante, por exemplo, ameaça embaralhar a trama desnecessariamente.

Na verdade, o teste para aderir a esta gangorra cinematográfica está já nos primeiros dez minutos de cores saturadas, montagem ousada e narração de fábula. Se o espectador torcer o nariz, não há hipótese de entrar no tipo de espiral patológica para o qual o filme nos convida.

Quem se sentir intrigado, por outro lado, saberá aproveitar o que o filme tem de bom.

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