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Acusado de fazer propaganda gay, 'Billy Elliot' tem apresentações canceladas na Hungria

Colunista de jornal pró-governo afirmou que musical está corrompendo os jovens

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State Opera da Hungria, em Budapeste, com propaganda do musical 'Billy Elliot' - Ferenc Isza/AFP
Palko Karasz
The New York Times

A State Opera da Hungria cancelou nesta quinta (21) várias apresentações do musical “Billy Elliot” depois que uma colunista de jornal acusou a produção de fazer "propaganda gay".

O premiado musical sobre um filho de trabalhador de minas na Inglaterra que sonha em ser bailarino estreou na companhia húngara de balé em 2016 e recebeu ótimas críticas, além de inspirar novos talentos a treinar na principal escola de balé do país.

Mas, antes da reestreia da produção no verão europeu, um artigo no dia 1º de junho no jornal Magyar Idok, favorável ao governo, acusou o espetáculo de corromper jovens.

Zsofia N. Horvath afirmou que a mensagem do musical de "Dare to be yourself" (Atreva-se a ser você mesmo, em tradução livre) referia-se "claramente" a ser gay.

"Como pode uma importante instituição ir contra os objetivos do Estado e usar um espetáculo feito para jovens ao redor dos 10 anos, que passam pela mais frágil idade, para fazer propaganda gay", pergunta  Zsofia N. Horvath.

"Promover a homossexualidade não pode ser um objetivo nacional numa situação em que nossa população já está envelhecendo e diminuindo, e a nossa nação é ameaçada por uma invasão estrangeira", acrescentou a colunista.

Zsofia N. Horvath afirmou que o governo húngaro promove a família, mas que “Billy Elliot” encoraja os jovens a seguir uma direção diferente. Talvez eles "não decidiriam por essa direção por conta própria", acrescentou.

Outros veículos de comunicação governistas endossaram a opinião de Zsofia N. Horvath e condenaram o espetáculo.

O diretor da State Opera da Hungria, Szilveszter Okovacs, escreveu uma réplica no mesmo jornal no dia 2 de junho. "Só porque algo que é inquestionavelmente parte da vida aparece no espetáculo não quer dizer que nós estamos promovendo isso", escreveu ele em defesa de "Billy Elliot".

A State Opera da Hungria anunciou o cancelamento de 15 apresentações na quinta (21). Okovacs afirmou, nesta sexta (22), que decidiu pela medida porque o artigo de Horvath causou uma queda na bilheteria sem precedentes. Outras apresentações do espetáculo foram mantidas.

O jornal Magyar Idok é conhecido como um órgão de comunicação não oficial do primeiro-ministro, Viktor Orban’s, e rotineiramente acusa ou expõe figuras públicas que se manifestam contra o governo. 

Desde sua eleição, em 2010, o governo de Orban trabalha para restaurar a cultura húngara, que inclui o nacionalismo e o que ele chama de "democracia não liberal", que rejeita o liberalismo ocidental e seus valores.

Orban é conhecido pelo populismo, pela firme posição contra os imigrantes e por estigmatizar setores da população, como os sem-teto e aqueles que auxiliam os imigrantes.

Ele não critica a homossexualidade pessoalmente, mas insultos homofóbicos aparecem em discursos não oficiais e personalidades simpatizantes ao governo se manifestam contra o que elas chamam de tirania do politicamente correto e promoção da homossexualidade.

Para Noemi Herczog, crítica teatral da Elet es Irodalom, uma publicação literária, a situação relembra a atmosfera do comunismo húngaro.

“Invoca os mesmos sentimentos", afirmou ela. “As pessoas estão falando em censura e como aquela coluna foi escrita por ordem superior.”

Herczog afirmou, porém, que ainda é possível encontrar posições políticas divergentes no teatro húngaro, mesmo nos grandes, sob poder do governo.

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