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Artes Cênicas teatro

Apesar de texto regular, espetáculo 'Vênus Ex Libris' tem boas sacadas cênicas

Rafael Steinhauser e Ana Carolina Godoy recriam o jogo erótico de submissão do homem pela mulher

BRUNO MACHADO

Venus Ex Libris

  • Quando Sex. e sáb., às 21h, dom., às 18h. Até 8/7. Sessões extras: 30/5, às 21h; 30/6 e 7/7, às 23h59; 4/6 e 9/7, às 21h
  • Onde IAB, r. Bento Freitas, 306, mezanino
  • Preço contribuição voluntária
  • Classificação 16 anos

Um estranho legado ofuscou a extensa obra do austríaco Leopold von Sacher-Masoch: a psiquiatria emprestou seu sobrenome para batizar o masoquismo. Desde a publicação, em 1870, sua novela mais famosa, "A Vênus das Peles", foi relida diversas vezes.

A peça "Vênus Ex Libris" reúne referências numa espécie de revisão literária da obra, como sugere a expressão latina do título. Na encenação de Luiz Fernando Marques, os atores Rafael Steinhauser e Ana Carolina Godoy recriam o jogo erótico de submissão do homem pela mulher que fez a novela ser rotulada como pornográfica.

A relação entre sexo e poder vai além do sadomasoquismo; surge na disputa entre os personagens pelo controle da narrativa. Segundo a dramaturgia, o volume poderia ser lido como manifesto feminista, ao advogar pela equidade entre os gêneros, e machista, por afirmar ser impossível a igualdade entre homem e mulher nas relações amorosas. O jogo erótico tampouco escapa ao olhar psicanalítico.

Transpor a obra original para o teatro e abarcar suas sucessivas reinterpretações parece o objetivo da montagem.

Embora a variedade de vieses seja oportuna, raramente se traduz em narrativa ou personagens bem desenvolvidos.

Irregular, o resultado dramatúrgico ora resvala a um didatismo dissonante, ora alude a informações somente perceptíveis ao espectador iniciado na obra literária.

Também são mal delineados os personagens. A despeito do competente trabalho dos intérpretes, falta ao texto nuance e ambiguidade.

Ainda assim, entrevê-se na encenação uma projeção espelhada: os atores encarnam representações modernas dos personagens.

A montagem de Marques consegue suprir as deficiências da dramaturgia e apresentar soluções engenhosas. Assim, o espetáculo alterna atmosferas oníricas e urbanas numa unidade curiosamente consistente.

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