Descrição de chapéu Kanye West Kim Kardashian

Após ano turbulento, Kanye West reúne colegas em rancho para lançar álbum

Nos últimos meses, rapper demitiu empresários e elogiou Trump; 'Ye' é, em parte, um acerto de contas

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Show de lançamento do novo disco de Kanye West

Kanye West dança ao redor de uma lareira na festa de lançamento de "Ye", álbum do rapper, num rancho em Moran, Wyoming Ryan Dorgan - 31.mai.2018/The New York Times

Jon Caramanica
Moran, Wyoming (EUA) | The New York Times

Eram cerca de 20h de uma quinta-feira, no Diamond Cross Ranch, em Moran, Wyoming, quando Chris Rock subiu numa plataforma, contemplou as poucas centenas de pessoas reunidas em torno de uma fogueira que cintilava loucamente, e iniciou sua peroração.

"Eu encostei a mão em um alce!", ele exclamou, "e o alce disse, 'ei, tem um monte de...'" — bem, vamos dizer pessoas que normalmente não visitam ranchos no Wyoming. Ele acenou com a cabeça na direção da fogueira. "Amanhã de noite, vão queimar uma cruz", brincou o comediante.

Ele disse que o hip-hop era "a primeira forma de arte criada por homens negros livres" (ainda que o jazz provavelmente pudesse objetar à descrição). E prosseguiu: "Nenhum homem negro tirou mais vantagem dessa liberdade do que Kanye West".

Nos últimos meses, West trabalha em novas composições, no Wyoming —mais ou menos como as sessões no Havaí que renderam o álbum "My Beautiful Dark Twisted Fantasy" —, trazendo colaboradores de avião para gravações e desfrutando da natureza.

West prometeu que as sessões resultarão em diversos álbuns: "Daytona", de Pusha-T, lançado na semana passada; novos projetos de Nas e Teyana Taylor; e dois álbuns seus, um solo e um com Kid Cudi.

O disco pessoal de West, "Ye", foi lançado na quinta (31/5), quase imediatamente após o término da produção.

O cenário era dramático e amplo: um campo aberto, grandes pilhas de alto-falantes ordenados em círculo em torno da fogueira e câmeras para transmissão online ao vivo. À distância, viam-se cavalos, que demonstravam zero interesse pelos acontecimentos.

Uma vasta maioria da audiência veio de avião: Kim Kardashian West, mulher de Kanye; representantes da Def Jam, a gravadora de West, DJs e programadores de rádios; jornalistas; alguns músicos (Pusha-T, Lil Yachty, Fabolous) e um punhado de celebridades (Rock, Jonah Hill, Luka Sabbat, Scott Disick).

Tim Westwood, apresentador de rádio britânico cuja especialidade é o hip-hop, entrevistava os presentes. 2 Chainz estava acompanhado de seu buldogue francês, Trappy. A comentarista conservadora Candace Owens, uma das pessoas favoritas de West, também participou.

A presença de Owens lembrava o contexto incomum em que "Ye" foi lançado. Desde abril, West vem percorrendo um caminho quixotesco: demitiu empresários; começou a usar um boné com o lema da campanha presidencial de Donald Trump; tem elogiado o presidente; foi ao canal TMZ dizer que fez lipoaspiração e declarar que a escravidão aconteceu por escolha.

E, nos últimos dias, ele se envolveu em uma briga com o rapper Drake, usando Pusha-T como preposto. Drake reagiu à acusação de que trabalhava com compositores não creditados em suas canções.

O período foi desorientador e de algum modos prejudicial, e o propósito de "Ye" é pelo menos em parte corrigir o curso daquilo que West descreve, na nova canção "No Mistakes", como "um ano agitado".

Ele fala de sua saúde mental em diversos momentos do álbum. Em "Yikes", cita o distúrbio bipolar, cantando que "esse é meu superpoder, não uma deficiência" (a capa do álbum traz as palavras "odeio ser Bi-Polar é maravilhoso").

Mas o mais importante: ele mapeia um percurso para o perdão, especialmente em "Wouldn't Leave", sobre decepcionar sua mulher.

Depois que as canções foram todas tocadas, muitos dos convidados embarcaram num ônibus para o Million Dollar Cowboy Bar, imenso salão decorado com animais empalhados, no centro de Jackson, 45 minutos a sudoeste do rancho.

Uma banda de bluegrass estava tocando para alguns poucos dançarinos, e depois de alguns minutos de observação cautelosa —com os visitantes e os locais trocando olhares ressabiados— dezenas dos amigos de West ocuparam a pista de dança.

Lil Yachty, com as tranças ruivas voando, fazia a dança de BlocBoy JB, e Teyana Taylor, de bolsa Goyard, dançava um milly rock firme. Desiigner correu à pista para dançar com os fregueses regulares. Do outro lado do salão, Ty Dolla Sign jogava sinuca.

Era tanto surreal quanto corriqueira essa mistura de turmas. Se houve tensão, não foi grave. Em um dado momento, a banda tocou uma cover de "Atlantic City", de Bruce Springsteen, e o cantor parece ter trocado o "racket boys" [bandidos locais] da letra por "MAGA boys" [em referência "make america great again", ou recuperar a grandeza da América, lema de Trump].

Pouco depois, West apareceu. Ele posou para fotos com locais, sentou-se para conversar com Big Sean e, ao que parece, escolheu interpretar o papel de um cara comum que vai ao bar. E, naquela noite, naquele bar, a América parecia capaz de ser grande, afinal.

Tradução de Paulo Migliacci.

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