Atração do Cultura Inglesa Festival, George Ezra conjuga pop moderno e folk ancião

'Jovem de voz antiga' é destaque de evento que apresenta cantora Iza e será transmitido pelo Multishow

Rafael Gregorio
São Paulo

​Noitadas repletas de drogas, brigas de bar, sexo desprotegido com estranhos e vômito na sarjeta?

Caso o nome no letreiro seja George Ezra, a resposta é “não, obrigado” —em um inglês de sotaque bem britânico.

É um bom menino, afinal, a atração do Cultura Inglesa Festival, no domingo (10), no Memorial da América Latina.

Aos 25 anos completados na quinta (7), Ezra tem namorada, prefere o dia à noite para compor e considera prioritário dormir bem. Seu conceito de noite perfeita: colocar o celular em modo avião por volta das 21h, ler um livro e apagar para acordar lá pelas 8h.

Também se preocupa com a alimentação e aprecia caminhadas, durante as quais diz ter ideias de letras e melodias que grava no celular para, depois, trabalhar com a banda.

As oposições aos clichês da fama ajudam a nutrir o pendor para refrões aderentes e a voz grave e potente que o alçaram à fama em poucos meses.

Literalmente: em outubro de 2013, lançou o EP (fonograma maior que um single e menor que um álbum) “Did You Hear the Rain?”. Em março de 2014, saiu outro EP, “Cassy O’” —ambos com quatro canções e alçados ao top 100 britânico.

Em junho daquele ano, veio o primeiro disco, “Wanted on Voyage”, cuja música de trabalho, “Budapest”, imediatamente liderou paradas em países como França, Alemanha e o próprio Reino Unido.

A recepção por rádios e público atraiu a atenção da mídia ao “jovem de voz antiga”, na precisa definição do jornal inglês The Guardian.

Nascido na pequena Hertford, no sudeste da ilha, ele somava então 21 anos e acabava de voltar de viagens em clima de “mochilão” pela Europa.

A experiência o inspirou a escrever os primeiros sucessos, alguns intitulados sob a inspiração de locais que visitou, como “Barcelona”.

Não foram suas primeiras composições; diz criar músicas desde os 13 anos. “Mas eram ingênuas e não mostrava para ninguém”, afirma.

Um dia, porém, sua mãe o ouviu cantar uma delas e, então, deu-lhe um conselho: filho, vá escutar Bob Dylan.

Ele foi. “Só tinha um CD com uma coletânea de sucessos, mas pude ver claramente [o que ela quis dizer] quando tocou ‘Mr. Tambourine Man’. Fiquei obcecado.”

Após pesquisar de Dylan “todos os discos, todas as músicas”, buscou as inspirações do ídolo: Woody Guthrie (1912-1967), Howlin’ Wolf (1910-1976), Lead Belly (1888-1949).

Deste, pegou o jeito de “cantar grande”, em sua definição. Barítono, Ezra explora tons graves com timbre encorpado, em caminho diferente do que se ouve no pop do século 21.

A voz, a lírica otimista e a oposição entre juvenil e ancestral, pilares do sucesso do inglês, ganharam roupagem pop e dançante no segundo disco, “Staying at Tamara’s”, lançado em março deste ano.

O álbum o afasta dos heróis folk rumo ao pop dos conterrâneos Ed Sheeran e Sam Smith. Funciona em temas como “Pretty Shining People” e “Get Away”, de refrões que grudam na mente mais do que se gostaria de admitir e clima propício a grandes plateias.

Antes só ou ladeado por um trio, o britânico agora canta respaldado por sete músicos, incluindo trompete e trombone. A ideia, diz, é reproduzir vozes e elementos que ornamentam as novas canções, em oposição aos arranjos mais nus do disco de estreia.

Além da nova formação, outra razão o empolga: o Brasil, que visitará pela primeira vez, será o mais longe que já foi a trabalho —“o mais exótico”, corrige-se, após lembrar que acaba de voltar da Austrália.

Treinado pelo baterista, o brasileiro Fabio de Oliveira, Ezra já consegue dizer “boa noite, São Paulo” em português suficiente para cativar os muitos fãs que tem por aqui —a cidade é a quinta no mundo em audições de canções suas no Spotify, por exemplo, e isso o faz sentir-se lisonjeado.

“Ainda é muito difícil para mim acreditar que estou indo a um lugar tão diferente por causa de minha música.”

Em tempo: os ingressos, gratuitos, estão esgotados, mas os shows de Ezra e da brasileira Iza serão exibido ao vivo no Multishow, e o festival tem atrações até 17/6 (culturainglesasp.com.br/festival).

Destaque nacional no evento, Iza é ‘a voz do momento’, diz Anitta

Antes do show do compositor inglês, o Cultura Inglesa Festival apresentará as bandas Staff Only e Madame Groove e, depois, a cantora Iza.

Aos 27 anos, a carioca “é a voz do momento”, segundo Anitta; estreou na última terça (5) à frente da quinta temporada do “Música Boa ao Vivo”, no Multishow, substituindo justamente a colega pop star.

“Não sabia como meu coração ia ficar, mas foi gostoso; estive em boa companhia”, diz Iza, que recepcionou Zeca Pagodinho, Thiaguinho e Maria Rita nas duas horas ao vivo.

No festival, Iza ainda não exibirá o show de seu primeiro disco, “Dona de Mim”, lançado em 2018 após dois anos de investimento da Warner Music.

Mas haverá surpresas: conhecida por interpretar divas pop, como Rihanna e Beyoncé, Iza deve entoar músicas das cantoras Dua Lipa e Jessie J, britânicas, ao encontro do intercâmbio do evento.

 

22º Cultura Inglesa Festival
Memorial da América Latina - av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, portão 1, zona oeste. Dom. (10): 16h (abertura dos portões às 15h; Staff Only: 16h; Madame Groove: 16h45; Iza: 17h45; George Ezra: 19h15). Grátis. Ingressos esgotados. Transmissão no Multishow a partir de 17h45.

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