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Livros

Biografia do violonista Raphael Rabello é fluente e tem rigor informativo

Histórias saborosas pontuam a narrativa elegante do jornalista Lucas Nobile

SIDNEY MOLINA

Raphael Rabello - O Violão em Erupção

  • Quando Lançamento em SP: sex. (15), a partir das 18h,, com sessão de autógrafos e discotecagem em LP da discografia do Raphael Rabello
  • Onde Patuá Discos (r. Fidalga, 516)
  • Autor Lucas Nobile
  • Editora Editora 34 (352 págs., R$ 64)

"Parecia um menino velho". Assim o jornalista Lucas Nobile caracteriza o violonista Raphael Rabello (1962-95), seu biografado, aos 13 anos de idade: "Só convivia com pessoas com idade para serem seus pais e até seus avós".

O livro "Raphael Rabello - o Violão em Erupção" traça —com escrita fluente e máximo rigor informativo— o percurso do músico virtuose que emergiu da renovação do choro no Rio de Janeiro a partir de meados da década de 1970.

Esse renascimento contrariava as expectativas dos velhos mestres do gênero, como Jacó do Bandolim (1918-69), Dino 7 Cordas (1918-2006) e Meira (1909-82), os dois últimos respectivamente ídolo máximo e professor direto de Raphael.

Dos 13 aos 17 anos, o filho de paraibanos nascido em Petrópolis (RJ) já havia participado de 70 discos. Até o final da vida, interrompida aos 32 anos, seriam mais de 600 faixas e 19 discos autorais, além de seis lançamentos póstumos.

Se, por um lado, Raphael criou fama como exímio violonista acompanhador ao violão de 7 cordas —certamente um dos melhores de todos os tempos ao lado de Dino—, sua produção como compositor é inexpressiva se comparada a antecessores como Garoto (1915-55), Dilermando Reis (1916-77) e Baden Powell.

Mas tornar-se celebridade a partir da aparentemente "secundária" função de acompanhador é mérito único e inigualável. Discos antológicos com Elizeth Cardoso, Ney Matogrosso, Déo Rian, Armandinho, Nelson Gonçalves, Paulo Moura, Radamés Gnattali e com o próprio Dino alternam-se a trabalhos solo em que assume o protagonismo.

A análise de sua relação musical com Gnattali (1906-88) —Nobile faz o melhor relato sobre a história da "Suíte Retratos", do compositor gaúcho— e com o violonista erudito Turíbio Santos são contribuições preciosas do livro.

A pressa nas gravações e a personalidade camaleônica talvez expliquem a irregularidade do som do violonista, que alternava entre beleza encorpada e estridência metálica. O autor situa também os principais instrumentos que usou, construídos pelos luthiers Sylvestre, Ramirez e Mario Jorge Passos.

Histórias saborosas pontuam elegantemente a narrativa, como quando, em 1990, na TV ao lado do amigo Paco de Lucía, Rabello (no auge da carreira), foi apresentado —pela enésima vez— como tendo sido um "menino prodígio", ao que o guitarrista flamenco retrucou: "Sim, e agora ele é um homem prodígio".

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