Cantores de karaokê tentam sua chance em concurso mundial

É possível se inscrever para fase paulistana do Karaoke World Championships

Ivan Finotti
São Paulo

A frente fria que chegou à cidade, justamente na manhã da segunda seletiva do campeonato mundial de karaokê (3/6), desatou a rinite da coordenadora de voos de helicópteros e jatinhos Paula Jankoski, 34. 

Longe de ser um problema para quem se programou para apresentar “Total Eclipse of the Heart”, hit de 1983 na voz rouquíssima de Bonnie Tyler. 

Uma caipirinha de limão para esfriar ainda mais a garganta e pronto: lá foi Paula cantar o famoso “turn around” que inicia a música.

Apesar de a atuação ter arrancado aplausos da plateia —basicamente os 30 concorrentes e namoradxs—, não foi classificada para a final nacional do Karaoke World Championships (KWC).

Ela não gostou nadinha.

“Eu achei sinceramente nada a ver esse concurso. Deixam de lado os bons e classificam os ruins para incentivá-los a se inscreverem. Olha, estou indignada e nunca mais volto. Não recomendo”, concluiu a moça de sangue quente polonês.

O KWC, dizem seus organizadores, é a maior competição do mundo do gênero. 

Nascido na Finlândia em 2002, chegou ao Brasil em 2015. Neste ano, o campeonato está sendo realizado em cerca de 30 países. 

A final acontecerá em Málaga, na Espanha, entre 24 e 27 de outubro. A final brasileira, em 7 e 8 de setembro, será no Cantho Club, no largo do Arouche, na região central de São Paulo.

E São Paulo ainda tem uma seletiva, em 8 de julho, no Samurai. Inscrições —esperam-se 2.000 neste ano, o dobro do ano passado— a R$ 35 no site www.kwcbrasil.com.br.

O Samurai, que está recebendo os competidores paulistanos, é um tradicional restaurante japonês na Liberdade com karaokê no andar superior. Existe desde 1969 e, na semana passada, aumentou sua taxa de vômito de R$ 40 para R$ 60 (é sério!).

“Não estava dando conta, mas, depois do aumento, ninguém mais sujou o espaço”, revela o simpático garçom venezuelano Francisco Bolívar.

Uma das finalistas foi a dentista Nayara Alencar, 24, que chamou a atenção com seu blazer rosa-choque. 

“Eu não ia participar, estava com dor de garganta. Aliás, ia cantar ‘Frevo Mulher’, do Zé Ramalho. Só que fiquei insegura e fui de Ivete [‘Quando a Chuva Passar’]. Quero representar o Brasil com música brasileira. Mas um jurado me aconselhou a cantar em inglês, porque é um concurso internacional. Será?”

Será que há nariz torcido com a música genuinamente brasileira no campeonato de internacional de karaokê? O que sabemos é que os dois candidatos genuinamente bregas dançaram.

Primeiro subiu ao palco Luzia Moreira, de vestido vermelho colado e botinhas brancas com salto agulha, para cantar, adivinhe?, “A Dama de Vermelho”, que foi sucesso na voz de de Francisco Alves, Waldick Soriano e Reginaldo Rossi, entre outros. 

“Existe sim preconceito com nossa música de raiz, mas eu adoro pirraçar. É só novinha cantando em inglês...”, disse a advogada de 60 anos (“dá pra botar cinco zero?”), 50 anos (mas é claro que dá, Luzia!).

Pouco depois, o corretor de imóveis Roberto Novais, 43, destilou seu Amado Batista, “Meu Ex-Amor”. 
“Não estão analisando bem as músicas”, reclamou ele, que não vendeu nenhum imóvel no último mês, mas alugou sete. “Brega é brega, paixonite pura”, resume.

Brega? Cantar em português? Nada disso foi questão para o elegante Ademar Lins de Albuquerque, 67. 

Aposentado, ele trabalhou por 12 anos em bancos na Inglaterra e, no concurso, soltou “My Way” no estilo de Frank Sinatra, bem do jeito que viu ao vivo, certa vez no Morumbi, em São Paulo, e mais outras duas no Royal Albert Hall, em Londres.

Acontece que Ademar também foi eliminado, apesar de, segundo ele, nenhum jurado ter conseguido lhe explicar a razão. “Me disseram que eu tenho a voz forte demais. E isso lá é motivo para desclassificação?”


Razões de karaokê

Por que você vai  ao karaokê?

80% 
por diversão, confraternização com amigos, terapia

20% 
para se apresentar em público
 
Em que língua prefere cantar?
70% 
inglês
30% 
português
 
Se em inglês, por quê?
60% 
melhor sonoridade vocal
30% 
preferência musical
10% 
maior variedade de estilos
 
Se em português, por quê? 
50% 
valorização da cultura
30% 
não domina outro idioma
20% 
preferência musical

Fonte: KWC Brasil, pesquisa feita em capitais brasileiras e interior de SP e RJ entre março e maio de 2018 com cerca de 2.000 frequentadores de karaokê

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