Descrição de chapéu Artes Cênicas

Cia. Razões Inversas saúda o tempo na peça 'Caixa de Memórias'

Escrito por José Eduardo Vendramini, espetáculo discute as relações e a formação das famílias no século 20

MLB
São Paulo

Em seus 27 anos de trajetória, a Cia. Razões Inversas decidiu reverenciar a própria passagem do tempo.

"Caixa de Memórias", espetáculo que o grupo paulistano estreia nesta sexta-feira (29), é "uma uma crônica do tempo", na descrição do diretor Marcio Aurelio —a montagem tinha estreia prevista para sexta passada (22), mas, por um problema técnico do Centro Cultural São Paulo (um transformador queimado), a programação do local foi adiada.

O texto de José Eduardo Vendramini toma a saga de uma família como ponto de partida para discutir as relações e as formações familiares no último século.

Denise Del Vecchio em ensaio de 'Caixa de Memórias' - Lenise Pinheiro/Folhapress

Começa no início do século 20, com o casamento de um jovem casal jovem. Eles cuidam dos velhos ancestrais e dos filhos enquanto buscam sucesso financeiro.

A cronologia segue por anos até a neta deles, que retoma a história dos avôs: ela precisa resgatar a documentação dos familiares, vindos do exterior, para mudar-se para a Europa.

Nesse passar de anos, veem-se as mudanças de costumes e de relações, mas também aquilo que permanece enraizado, como um certo machismo ou a ganância dos filhos sobre a herança dos pais.

"Ali estão os elementos primários que dão origem à sociedade contemporânea, ao caráter desse homem de hoje", afirma o encenador. "Isso tudo tem tão a ver com a mitologia que a gente tem hoje sobre quem somos."

Aurelio retoma aqui uma metodologia utilizada em "Agreste" (2004): pensar as cenas a partir da trilha sonora. Ele, que há dez anos dirigiu a portuguesa Maria João Pires em "Schubertíade", apresentado na Espanha, abre a montagem justamente com composições de Schubert.

O austríaco vem acompanhado do húngaro Liszt, que remete ao romantismo e ao melodrama, segundo o diretor. Depois, à medida que a história avança no tempo, entram em cena ritmos mais populares, como valsa e tango.

Uma forma, explica Aurelio, de desestruturar o discurso, assim como fazem as novas gerações com certos costumes do passado.

O visual do espetáculo, em especial o figurino, são inspirados em retratos do mineiro Chichico Alkmim, que registrou moradores da região de Diamantina (MG) na primeira metade do século passado —seu acervo, sob a guarda do Instituto Moreira Salles, foi editado em livro há um ano.

As fotografias em preto e branco, com personagens mirando a câmera, estáticos, são também um retrato da espera já que àquela época era preciso aguardar um tempo para o registro do filme fotográfico.

"Essas pessoas ficavam um longo tempo paradas, mas na verdade é como se elas estivessem, naquele momento, tendo outra vida. Essa dimensão temporal, do conflito da espera, nós trazemos para a peça", afirma Aurelio, que também guarda uma relação de tempo com o espaço onde "Caixa de Memórias" é apresentado, a sala Jardel Filho do CCSP.

Foi ele quem inaugurou o palco, 36 anos atrás, dirigindo uma leitura encenada de "Pauliceia Desvairada", peça Carlos Queiroz Telles, com Tom Zé, Elias Andreato e Edith Siqueira interpretando os modernistas Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Pagu.

Caixa de Memórias

  • Quando Sex. e sáb., às 21h, dom., às 20h
  • Onde Centro Cultural São Paulo - sala Jardel Filho, r. Vergueiro, 1.000
  • Preço R$ 20
  • Classificação 14 anos
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