Cícero Dias ganha retrospectiva com 40 pinturas em galeria de São Paulo

Mostra inclui série de litografias inéditas do artista pernambucano, feitas em Paris nos anos 1970

Isabella Menon
São Paulo

A exposição de estreia de Cícero Dias (1907-2003) aconteceu no primeiro congresso de psicanálise realizado no Brasil, em 1928. 

Nas paredes, suas aquarelas, que retratavam cenas do cotidiano do artista pernambucano à época, como o engenho de açúcar. 

Agora, as diferentes fases de sua carreira são contempladas em uma retrospectiva com 40 quadros, na unidade paulista da Simões de Assis Galeria, com sede em Curitiba.

Menor do que a mostra apresentada pelo Centro Cultural Banco do Brasil em 2017, com 125 obras,  a atual exposição conta com parte de uma série inédita de litografias produzidas em Paris, onde ele passou parte da vida e onde morreu, em 2003. 

A série inédita, denominada “Suíte Pernambucana”, foi produzida em 1983 a pedido da extinta Galeria Belechasse, de Paris, e apresentada na França e no Brasil em 1986.

“Ele nunca se limitou a seguir uma só escola. Mesmo tendo participado de um grupo de modernistas na França, não seguia nenhuma doutrina”, diz o galerista Waldir Simões de Assis, referindo-se ao período em que o artista morou na capital francesa com Di Cavalcanti (1897-1976), no final dos anos 1930. 

Mesmo tendo vivido em outros países, Dias “jamais abandonou o Pernambuco dele”, diz o galerista, que enfatiza a sensualidade e a fluidez como marcas do trabalho do artista.

Sensualidade essa que foi censurada na obra “Eu Vi o Mundo... Ele Começava no Recife”, um painel de 2 m X 15 m que teve uma parte cortada antes da primeira exposição, em 1931, por retratar erotismo e nudez. 

“Se hoje há censura nas artes, imagine naquela época”, afirma Simões.

Para o galerista, Dias criou um estilo de pintura desorganizada em composição, mas que se revelou ao grupo de modernistas da geração do anos 1920 como o novo valor da arte brasileira. 

Na mostra, as diferentes fases e vertentes do artista são expostas, desde a figuração e os períodos geométrico e abstrato até o seu retorno à figuração na década de 1960.

Depois de um período na capital francesa, o artista foi a Lisboa, nos anos 1940. Nessa época, sua obra começou a se distanciar da figuração e passou a dialogar com os trabalhos do seu colega de profissão Pablo Picasso (1881-1973). 

Com influências e contato com tantos artistas da época, o trabalho do pernambucano foi constantemente comparado ao do surrealista bielorusso Marc Chagall (1887-1985), relembra o galerista. Entretanto, esse paralelo não agradava Dias. 

“Ele costumava dizer que só foi apresentado ao trabalho de Chagall por Mário de Andrade, que lhe mostrou duas gravuras do bielorusso, depois de ter conhecido a sua obra”, diz Simões que acredita que a coincidência, talvez, se tratasse de um “inconsciente coletivo”.

Cícero Dias
Simões de Assis Galeria, rua Sarandi, 113, Jardim América, , seg. a sex., das 10h às 19h. Até 11/8. Grátis 

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