Descrição de chapéu

Documentário de franco-suíço apenas finge ter João Gilberto como tema

Quem sabe alguma coisa sobre a vida do artista não encontrará nada atraente no filme

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Onde Está Você, João Gilberto?

  • Quando em cartaz na programação do festival In-Edit
  • Produção França/Suíça/Alemanha, 2018
  • Direção Georges Gachot

“Onde Está Você, João Gilberto?” apenas finge ser um documentário sobre o hoje recluso grande cantor da bossa nova. Na verdade, o foco do diretor franco-suíço Georges Gachot é a obsessão do escritor alemão Marc Fischer pela figura de João.

Destaque do Festival In-Edit Brasil, este é o décimo documentário do cineasta, numa carreira que aborda o universo musical e, em quatro títulos, a MPB. Gachot passou algumas semanas no Rio refazendo a peregrinação que Fischer cumpriu na década passada para escrever “Ho-Ba-La-Lá”. O título do livro é o mesmo da canção que João Gilberto gravou em 1959.

Fischer, que morreu poucos dias após a publicação do livro, em 2011, era obcecado pela música e queria não apenas encontrar João Gilberto, mas convencê-lo a tocar “Ho-Ba-La-Lá” no violão, diante dele. Missão ingrata.

Para a apuração do livro, Fischer contou com ajuda da brasileira Rachel Balassiano, intérprete que ele chama carinhosamente na obra de Watson, já que o alemão acreditava ser um Sherlock Holmes decifrando o mistério do músico baiano.

Em seus primeiros 30 ou 40 minutos, “Onde Está Você, João Gilberto?” patina sem sair do lugar. Os passeios do diretor-narrador pelo Rio, citando trechos do livro de Fischer, são tediosos. Quem sabe alguma coisa sobre a vida de João não encontrará nada atraente nesse preâmbulo exagerado.

Apenas quando assume os mesmos métodos do alemão é que Gachot traz alguma temperatura ao filme. Ele conversa com os mesmos interlocutores procurados por Fischer. Entre eles, Miúcha, João Donato, Roberto Menescal, Marcos Valle e o barbeiro que cortava o cabelo de João a domicílio.

Esperar por novidades é colher decepção. Nada inusitado é extraído desses encontros. Então, é a verve de cada um que valoriza mais ou menos esses depoimentos. Miúcha fica restrita a comentários carinhosos sobre o ex-marido, e Donato trava em sua habitual timidez.

Cabe a Roberto Menescal e Marcos Valle os momentos mais divertidos. Há anos que os dois são praticamente os oradores “oficiais” sobre as histórias saborosas da bossa nova. No filme, cumprem o papel, apesar do distanciamento que cada um tem em relação a João Gilberto. Menescal falou com ele pela última vez em 1962. Mais ou menos durante o mesmo período, Valle teve uma longa conversa por telefone com João. E só.

Até a cena final, momento poético no hotel Copacabana Palace, as idas e vindas de Gachot e a insistente repetição de trechos do livro desafiam o espectador. É preciso ter paixão por João Gilberto para persistir nessa maratona sem nada de novo a mostrar.

Quem deseja os primeiros contatos com João Gilberto e a bossa nova pode procurar os livros de Ruy Castro, com certeza uma opção mais prazerosa. Ou mesmo o irregular “Ho-Ba-La-Lá”, de Fischer, lançado no Brasil pela Companhia das Letras. O filme de Gachot é apenas para verdadeiros órfãos de João.

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