Descrição de chapéu

Documentário 'Safári' mostra caça como forma de neocolonialismo

Rodado na Namíbia, longa acompanha europeus ricos que viajam para matar girafas e zebras

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Alexandre Agabiti Fernandez

SAFÁRI

  • Quando Estreia nesta quinta (14)
  • Classificação 12 anos
  • Produção Áustria, 2016
  • Direção Ulrich Seidl

Veja salas e horários de exibição.

Praticamente desconhecido no Brasil, o diretor e roteirista austríaco Ulrich Seidl provoca o espectador com ficções e documentários em que a natureza humana —com suas contradições, abismos e zonas obscuras—  ocupa lugar central. “Safári” não foge à regra.

Filmado na Namíbia, este documentário acompanha austríacos e alemães endinheirados que se entregam aos “prazeres” da caça. Em um hotel dirigido por um branco situado em uma reserva, eles escolhem em um catálogo o animal desejado: girafa, gnu, zebra, impala. Boa parte dessa fauna está em vias de extinção e cada animal tem seu preço.

Além da foto ao lado do corpo do animal ainda quente —evocando um imaginário colonial típico do século 19 que ainda está bem vivo— , o caçador tem direito a outro troféu macabro: a pele ou a cabeça.

Sem qualquer comentário externo, o filme alterna cenas de matança na savana com planos frontais nos quais os turistas caçadores falam olhando diretamente para o espectador –traço recorrente na filmografia do diretor austríaco. Essa frontalidade é perturbadora, faz com que o espectador se sinta interpelado.

Os caçadores e caçadoras discorrem candidamente sobre qual animal gostariam de matar, sobre a emoção que sentem quando estão prestes a disparar e o prazer experimentado logo depois do tiro —cuja natureza sexual é evidente— , sobre a munição mais adequada para cada animal. E se desdobram em um discurso defensivo cheio de eufemismos para justificar a caça, que “evita que os animais morram por doenças e garante a sobrevivência das espécies”.

As cenas de caça são igualmente sórdidas —especialmente a da girafa agonizante, que depois exige um pequeno exército para ser colocada sobre a caminhonete— , e são geralmente seguidas da retirada da pele, da evisceração e do esquartejamento, trabalho sujo realizado pelos nativos, ao qual os caçadores não assistem.

Ao contrário do que acontece com os caçadores, os autóctones não têm direito à palavra apesar de terem grande presença no filme. Seidl os mostra mudos em longos planos frontais, apresentando-os imóveis em seus casebres miseráveis ou em meio a cabeças de animais empalhados penduradas nas paredes: também são uma forma de troféus de caça. Ou em planos semelhantes comendo pedaços dos animais caçados como quem rói um osso. Abjeto e devastador.

Com seu olhar de antropólogo e entomologista –nada isento de cinismo–, Seidl explora o frisson provocado por emoções fortes, o fascínio pela morte como ponto culminante de um suspense fabricado, o racismo dissimulado ou explícito, descrevendo esse ritual de caça como uma forma de neocolonialismo.

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