"A minha vida teve uma dupla face", diz Cristovão Tezza. O escritor catarinense radicado em Curitiba, 65, começou a carreira como ficcionista, mas também gosta de exercer seu lado de teórico.
Foi professor universitário de língua portuguesa e, em seus estudos, especializou-se em teoria literária.
Por seu lado acadêmico, é às vezes chamado a participar de conferências sobre literatura. "E as pessoas começaram a me pedir esses textos [apresentados nos eventos]", lembra o autor e colunista da Folha.
Certo dia, colocou três de suas conferências na plataforma de autopublicação da Amazon, a R$ 1,99 cada uma. "E virou uma espécie de best-seller digital", brinca o escritor. "Vendiam 10, 15 por mês, o que na área digital é muita coisa."
Agora, sete desses textos foram revistos e organizados no livro "Literatura à Margem" (ed. Dublinense).
Na conferência-título, feita na abertura do 7º Festival Literário da Mantiqueira, em 2014, ele fala do aspecto marginal da escrita.
"Primeiro, porque ser escritor não é uma área regulamentada. Na verdade, você, mete a cara por conta própria", explica Tezza. "Segundo, porque a literatura é quase um nicho, uma linguagem à margem."
Nos demais textos, discorre sobre a criação literária, as inspirações do escritor, a relação da literatura com a psicanálise —sua porta de entrada nesse mundo foi "A Interpretação dos Sonhos", de Freud.
Trata, ainda, da transformação da linguagem na cultura brasileira com a força da TV (uma tradição oral) e depois da internet (um bombardeamento da escrita, não necessariamente qualificada) e sobre os limites entre realidade e ficção.
"Comecei a me preocupar com a discussão da fronteira entre biografia e ficção defensivamente, quando começaram a chamar 'O Filho Eterno' de autoficção."
Seu livro de maior sucesso, publicado há 11 anos, o romance é inspirado em sua relação com o filho com síndrome de Down.
"Mas é um romance. Trato de uma questão pessoal, mas também falo de muitos outros temas, de uma geração do Brasil, da utopia. Não tive nenhuma preocupação de relato verdadeiro."
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