Impacto da tecnologia nas relações humanas é tema de debate sobre o filme 'Ela'

Longa de Spike Jonze, venceu o Oscar de melhor roteiro original em 2014

Diana Lott
São Paulo

As emoções básicas mudam à medida que os meios de comunicação evoluem e a tecnologia avança?Essa foi a pergunta colocada pelo psicanalista Ignacio Gerber, debatedor do 2º Ciclo de Cinema e Psicanálise promovido pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, em parceria com a Folha.


O evento contou com a exibição do filme “Ela”, de Spike Jonze, vencedor do Oscar de melhor roteiro original em 2014. O longa, que se passa no futuro, conta a história de Theodore, um homem de meia-idade que se apaixona por uma assistente digital dotada de inteligência artificial.

Para Gerber, o nível de adaptação e fluência nas novas tecnologias permite que os indivíduos sejam divididos entre “nativos” e “imigrantes operacionais”.Os primeiros, são aqueles contemporâneos e fluentes nas novas tecnologias, que fazem uso delas de forma hábil e sem dificuldades. Já os últimos estão adaptados a um estágio tecnológico anterior, mas que conseguem fazer uso das inovações —“com algum sotaque”, diz o psicanalista. 

Na prática, esses grupos fazem uso da tecnologia de forma diferente, e se sentem mais ou menos adaptados a se relacionar por meio dela.“Como serão nossas crianças amanhã? Como a tecnologia vai afetá-las e quais são os nossos preconceitos em relação a isso?", disse Gerber, sem oferecer respostas.

 

Virtual

Fernanda Mena, jornalista da Folha e convidada do debate, abordou as implicações de se relacionar com um ente sem presença física —Samanta, a assistente digital que se torna namorada do protagonista, é apenas a voz de um gadget.

“A ausência de corpo me parece uma metáfora para a falta de materialidade das relações da nossa civilização pós-moderna em que o contato corpo a corpo foi substituído por essa interação virtual”, afirmou.

Para ela, o filme também nos faz perguntar sobre os limites desse tipo de relação virtual.“Sabemos que há afeto da parte dele, mas não sabemos até aqui se entes com inteligência artificial são passíveis de sentimentos, ou se estão apenas emulando um sentimento ao gosto do freguês.”

A próxima edição acontece no dia 13 de junho, quando será exibido o longa "Me chame pelo seu nome", de Luca Guadagnino. 

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