A inauguração de um novo espaço para espetáculos em São Paulo, dentro do Allianz Parque, na noite de sexta (1º), virou festa. O sucesso da estreia veio do carisma e do repertório da dupla Ivete Sangalo e Gilberto Gil, que reuniu, em show inédito, duas épocas e duas maneiras baianas de entreter o público.
Se a maioria das músicas da noite vinha do cancioneiro de Gilberto Gil, todas foram turbinadas por Ivete Sangalo, o habitual furacão no palco. Sem dúvida, o público de quase 10 mil pessoas estava lá muito mais atraído por ela do que por ele.
A música de Gil foi o motor do show, mas o desempenho de Ivete foi a gasolina para acelerar um repertório de canções bem conhecidas. Como reza a cartilha dos shows grandiosos, não houve espaço para surpresas. A dupla cantou o que o público queria ouvir
“Palco”, “Andar com Fé”, “Toda Menina Baiana” e até a fofa “Sítio do Picapau Amarelo” foram extraídas da fatia mais animada da obra de Gil e ganharam o público. Um deslize como o arranjo estranho para “Tempo Rei” foi compensado por uma ótima levada em “A Novidade”.
Ivete funcionava como uma animadora de torcida nas canções de Gil. Puxava os refrões com o vozeirão e fazia seu pedido (ou seria ordem?) para que a moçada saísse do chão. A plateia, lotada e com acentuado perfil LGBT, obedecia sem hesitar.
Como sempre, Ivete transmitia uma alegria evidente. Usando uma roupa de listras multicoloridas (uma homenagem à Parada do Orgulho LGBT marcada para o domingo?), que contrastava com Gil todo de branco, ela parecia estar se divertindo mais do que o público. Nem em baladas como “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim” o ímpeto de festa diminuiu.
Enquanto a primeira metade da apresentação foi dominada por canções de Gil, a parte final pertenceu a Ivete. Mesmo com sucessos “acelerados” do cantor, como “Realce”, foi ela que não deixou ninguém parado com “A Festa”, “Sorte Grande (Poeira)” e “Tempo de Alegria”.
No bis, Gil introduziu uma homenagem a São Paulo com “Punk da Periferia”. O público cantou com empolgação, embora a grande maioria dos presentes não demonstrasse ser familiarizada com a periferia paulistana.
A evidente busca por um Gil mais dançante era obrigatória, porque quando Ivete começava a cantar seus hits, em menor número no setlist, o estádio quase ia abaixo. Ou, melhor, um quarto do estádio. O formato chamado Allianz Parque Hall, concebido para shows de médio porte, utiliza cerca de 25% do espaço total da arena do Palmeiras.
O palco é montado mais ou menos no lugar de um dos gols, virado para a arquibancada mais próxima. Fica criado um efeito de “concha acústica”. Toda a área de arquibancadas utilizada, além do palco e de uma pequena pista diante dele, fica debaixo da cobertura do estádio, evitando problemas com uma eventual chuva.
O palco teve neste primeiro show três telões, nem tão necessários pela distância pequena entre artistas e fãs. Mas, de qualquer maneira, cumpriram bem a função. O som estava ótimo para quem estava bem em frente ao palco. Quem assistia das arquibancadas laterais recebeu o som um tanto embolado, com muito mais graves do que agudos.
Ao final de duas horas de show, o novo espaço e a nova dupla de astros parece ter recebido aprovação geral. E o público vibrou com o anúncio de Ivete sobre o show que fará em 8 de dezembro, novamente no Allianz Parque. Se ela quiser, pode partir para uma apresentação no estádio inteiro, em sua capacidade total de 40 mil pessoas. Deve lotar, fácil.
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