Descrição de chapéu Moda

Jogadores gastam até R$ 447 mil numa compra para criar imagem glamorosa

Supreme e Louis Vuitton estão entre as grifes prediletas de futebolistas, que têm até stylist

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São Paulo

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Se a medida da vaidade dos jogadores de futebol fosse proporcional ao desempenho em campo, a Copa da Rússia tenderia ao empate.

Referências de estilo para uma parcela dos homens que prefere assistir ao tapete vermelho da Bola de Ouro ao do Oscar, eles estão nas campanhas de moda, nos desfiles e, mais recentemente, na lista de compradores das grifes badaladas do luxo.

Acessórios forrados de cor, tachas ou brilho, brincos de diamantes, tênis enormes estampados com o nome da marca do momento e conjuntos esportivos, igualmente assinados, preenchem o armário milionário dos atletas.

Neymar gerou risos na internet ao ser fotografado na semana passada, em Londres, com costume azul, óculos amarelos e mala vermelha. 

Mas, enquanto o público riu, a máquina da moda se regozijou. Ele é um dos jogadores de elite que, segundo consultores ouvidos pela reportagem, podem gastar até 100 mil euros (cerca de R$ 447 mil) em uma única compra mensal.

Não há exatamente grifes prediletas entre eles, mas há um gosto particular pela americana Supreme, etiqueta de streetwear gravada na mala vermelha do camisa 10 da seleção, a francesa Balmain, dona dos bordados extravagantes adorados por Daniel Alves, e as italianas Gucci, Emporio Armani e Dolce & Gabbana.

Mas a preferida absoluta, dizem especialistas, é a Louis Vuitton. “Quando o jogador assina um contrato na Europa, a primeira preocupação é descer do ônibus com um nécessaire cheio de monogramas [LV]”, diz o stylist das estrelas Li Camargo.

O português Cristiano Ronaldo, do Real Madrid, virou manchete quando, em 2014, deixou de lado a mochila do patrocinador do time para ostentar um modelo da marca francesa em viagem a Lisboa.

Tão acirrada quanto a competição entre Nike e Adidas, grifes esportivas que competem para patrocinar o uniforme dos clubes e obrigam os jogadores a usarem seus logos em entrevistas e partidas, é a pressão para se adequar à imagem de jogador glamoroso.

O carioca Philippe Coutinho, 25, que o diga. Meio-campista da seleção brasileira, o jogador do Barcelona e segunda maior contratação da história do futebol disse à Folha que, quando foi para a Inter de Milão, em 2010, mudou a imagem para entrar na linha.

 

“Fui olhando como os companheiros se ves tiam e, é claro, a gente quer se vestir como eles. Na Europa, os jogadores são vaidosos, daí fui ficando mais vaidoso também.” Coutinho diz não frequentar desfiles —“mas, se tiver convite, vou com certeza”— nem ter consultor para compras. 

“Uso o que gosto, tento ser casual, mas com a roupa caindo certa no corpo”, afirma.

Ele, que assinou seu primeiro contrato de moda e se tornou o novo rosto da Boss Perfumes, da grife alemã Hugo Boss, conta que vai semanalmente ao barbeiro antes dos jogos pelo Barcelona para poder se mostrar apresentável à torcida e ao próprio clube.

Esse tipo de preocupação com a aparência, diz o coordenador de seleções da CBF, Edu Gaspar, “mostra respeito pelo esporte”. 

Por isso, ele decidiu chamar Ricardo Almeida para dar um tapa no look da seleção canarinha, que não tinha um padrão definido de traje formal e, agora, veste costume azul monocromático nos trânsito para a Copa da Rússia.

Nada que chame mais a atenção do que o futebol nem seja tão cheio de bordados quanto os looks das festas do esporte. Nas cerimônias, segundo Almeida, o que o jogador quer “é aparecer, se destacar dos outros colegas”.

A disputa informal que acontece na passarela de premiações, como a Bola de Ouro, tem a ver com a ostentação pela qual se caracteriza o universo das chuteiras douradas. 

A stylist Cuca Elias, especializada em vestir futebolistas para capas de revista, conta que a maioria “quer se parecer com jogador italiano”, mas leva tempo para que, no dia a dia, adotem um visual com menos marcas aparentes e acessórios brilhosos em excesso.

O desafio dos stylists, ela e todos os especialistas consultados explicam, é tirar essa necessidade dos jogadores de afirmarem status.

“Quando eles passam a entender que não precisam mostrar aos outros quanto dinheiro ganham, os relógios de ouro diminuem. Mas não é tão fácil quanto parece”, diz.

Segundo levantamento feito pela reportagem, a partir de sua entrada em um clube europeu, os jogadores costumam gastar valores similares, nas mesmas poucas etiquetas.

No primeiro lance chutam R$ 32 mil, com dois conjuntos de camisa e calça jeans, tênis e nécessaire, de preferência Louis Vuitton; no segundo, mais arriscado, apostam cerca de R$ 90 mil em uma mala da marca francesa, um relógio Rolex e um costume sob medida de grife italiana.

“Como não têm garantias de que vão permanecer no clube, eles gastam menos no início. Em dois ou três anos, consolidados, os valores aumentam e partem para as peças da Prada e uma alfaiataria sob medida”, explica a consultora e “personal shopper” portuguesa Raquel Guimarães.

Os consultores não permitem a divulgação dos nomes de seus clientes, mas pode-se dizer que seus conjuntos frequentam os campos da Liga dos Campeões da Europa.

Cobrança de praxe nessa área, ela diz, é produzir tendências. Quando se vestem para eventos midiáticos, os jogadores exigem looks exclusivos, “que chegaram às lojas, mas não foram expostos”.

Mesmo perfil da clientela de Yan Acioli, o “stylist das celebridades” do país, que já vestiu de Sabrina Sato a Kaká.

Segundo ele, muitos jogadores pecam quando querem usar o que não gostam só para se adequarem à imagem alheia, comprando roupa porque acha chique.

“A pessoa tem de ser fiel à personalidade, porque, senão, não segura [o look] direito. Entendo extravagância de alguns jogadores, mas ela tem de ser natural, não um remendo”, diz Acioli.

No caso de Kaká, “que é discreto na forma de se vestir”, o trabalho foi organizar o guarda-roupa “cheio de roupas de grife” e montá-lo para eventos.

Acioli explica a preferência do mundo da bola por logos a partir do que a própria indústria fashion vende como moderno. Para o stylist, a aproximação do traje dos boleiros com o dos rappers americanos é consequência da importância dessa imagem.

“Toda marca de luxo hoje tem um ‘sneaker’ [tênis gigante]. É natural o jogador usar isso para mostrar status e conexão com a moda.”

Cafona, nesse caso, não seria um adjetivo justo. 

“Não podemos julgar as escolhas de meninos que saem do interior, da escolinha de futebol, e conseguem chegar pela primeira vez às capitais da moda podendo se vestir como nunca conseguiram. É um choque de condições, que produz uma sensação de pertencimento.” 

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