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Modelo da Ancine não pode ser interrompido

Diretora ressalta importância do órgão para cinema nacional após questionamentos do TCU

DEBORA IVANOV

Diante do anúncio dos investimentos do Fundo Setorial do Audiovisual para 2018 para o desenvolvimento do setor —que envolve produção, distribuição e infraestrutura—, auditores da Secex-RJ (Secretaria de Controle Externo no Estado do Rio de Janeiro), do TCU, propuseram aos ministros do tribunal suspender as ações do fundo.

Entre os apontamentos elencados, estão a situação econômica do país e a capacidade da agência em fiscalizar os investimentos.

Os recursos do Fundo Setorial do Audiovisual são oriundos da própria atividade, por meio da Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional). Não se trata de incentivos fiscais, mas de arrecadação de empresas do setor distribuidores, produtores e empresas de telecomunicação--, que constitucionalmente deve ser investida no incremento do mercado.

São contribuições sobre a comercialização de cada obra audiovisual (Condecine Título), sobre a remessa de lucros para o exterior pela exploração das obras (Condecine Remessa) e sobre a operação das empresas de telecomunicação (Condecine Teles).

Esses recursos impulsionam a atividade, gerando milhares de empregos, milhões em outros tributos federais, estaduais e municipais, além de contribuir diretamente para o Tesouro Nacional com em torno de 50% da Condecine entre os anos de 2009 e 2017, que foram retidos pela União.

O Fundo do Audiovisual atingiu um novo patamar a partir de 2015, alguns anos após a aprovação da Lei da TV Paga (lei 12.485/11), momento em que a agência colocou em curso novas práticas de acompanhamento e controle.

Fachada do Tribunal de Contas da União, em Brasília - Leopoldo Silva/Agência Senado

Amparada pelo decreto 8.281/14, em diálogo com a CGU (Controladoria Geral da União) e o TCU (Tribunal de Contas da União), a Ancine construiu um novo modelo para dar conta do passivo e do volume crescente de projetos de obras audiovisuais, realizado para atender à demanda por conteúdo brasileiro gerada pela Lei da TV Paga.

Nesse modelo, todos os projetos prestam contas à agência e têm suas contas analisadas.

A partir daí, é realizado um sorteio público para selecionar um percentual que recebe análise ainda mais detalhada, enquanto, paralelamente, todos os projetos são acompanhados durante a execução das obras, permitindo alertas aos proponentes quando pertinente. Esse é um modelo recente, em curso, que com certeza pode ser aprimorado, mas não interrompido, paralisando a agência e o setor.

Desde sua fundação, a Ancine conta com o TCU acompanhando anualmente seus procedimentos e recomendando ajustes. Surpreendeu-nos a divulgação na imprensa de apontamentos do órgão antes mesmo dos esclarecimentos da agência e da análise do relatório pelo pleno do tribunal.

Ao longo de 25 anos lutamos arduamente para estruturar o setor audiovisual desde a extinção da Embrafilme e do Ministério da Cultura em 1990.

De lá pra cá, conquistamos a Lei do Audiovisual (1993), construímos a Ancine (2001) e a Lei da TV Paga (2011), entre outros marcos importantes. Ao longo desses anos, saltamos de apenas 2 para 158 filmes lançados em 2017 --e contamos hoje com mais de 3.000 horas de conteúdo nacional independente sendo exibido anualmente na TV paga.

O volume de produtoras registradas na Ancine saltou de cerca de 500, em 2002, para mais de 9.000, em 2017. Destacamo-nos no mercado internacional, conquistando prêmios nos principais festivais do mundo, além de vendas para inúmeros territórios.

Cabe a todos --gestores, servidores, produtores, criadores, atores e todos os profissionais do setor-- defender a sólida política pública que temos hoje e a bem-sucedida execução dos projetos audiovisuais.

Todos abertos, sim, a aprimorar procedimentos --na gestão dos projetos e na gestão da agência--, mas sem comprometer a estabilidade conquistada ao longo de 25 anos.

Anos de construção, em diálogo transparente e estreito com o Congresso Nacional, com representantes do Poder Executivo e com os órgãos de controle da União.

Anos que devem nos levar a mais 25 anos de prosperidade, de boa gestão e de muito orgulho para nosso país.

 

Debora Ivanov
Diretora da Agência Nacional de Cinema

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