Descrição de chapéu

Montagem sublinha atualidade de texto de Bernard Shaw

'A Profissão da Sra. Warren' aborda prostituição, conjuga embate entre mãe e filha e crítica social

BRUNO MACHADO

A Profissão da Sra. Warren

  • Quando Sex. e sáb., às 21h, dom., às 20h. Até 1º/7
  • Onde Masp - auditório, av. Paulista, 1.578
  • Preço Ingr.: R$ 30 (sextas) e R$ 50 (sábados e domingos), pelo site www.ingressorapido.com.br.
  • Classificação 12 anos

"A Profissão da Sra. Warren", peça de Bernard Shaw, foi escrita em 1893 e censurada na Inglaterra por abordar a prostituição, assunto que até hoje divide não apenas conservadores e liberais, mas também a militância feminista.

A polêmica ao redor do tema já garantiria perenidade ao texto, que, com notas melodramáticas, amplificadas pelo diretor Marco Antônio Pâmio, conjuga embate entre mãe e filha e crítica social.

Shaw condensa a sociedade vitoriana nos tipos masculinos que circundam as protagonistas: o aristocrata decadente (Sérgio Mastropasqua), o religioso hipócrita (Cláudio Curi), o artista romântico (Mário Borges) e o alpinista social (Caetano O'Maihlan).

Velhos amigos da Sra. Warren (Clara Carvalho), eles interrompem a rotina de estudos de Vivie Warren (Karen Coelho), que tem pouco contato com a mãe. A reunião culmina na revelação do passado obscuro da mulher e do trabalho que a mantém longe da filha: ex-prostituta, ela vive de uma rede de bordeis espalhados pela Europa.

Diplomada e cosmopolita, Vivie condena a mãe por suas escolhas —as mesmas que permitiram a ela cursar a universidade e não depender de um casamento para sobreviver, num embate geracional, mas, sobretudo, moral.

Do irretocável elenco, Clara e Karen se destacam em interpretações que acentuam as diferenças sociais e culturais entre as personagens.

Embora ocupem polos opostos, as Warren se assemelham ao tomar as rédeas dos próprios destinos e assumir as consequências de suas escolhas. O que as separa são as oportunidades dadas pela vida, ao que a dramaturgia parece advogar que a prostituição não é, necessariamente, fruto da exploração da mulher pelo homem, mas resultado da desigualdade estrutural entre os gêneros.

Espantosamente contemporâneo, esse olhar é evidenciado de modo curioso pela montagem, que situa a ação numa espécie de passado impreciso, mas não distante: a trilha sonora evoca a década de 1950 —antes da segunda onda feminista, portanto—, assim como os figurinos. Vivie destoa dos demais personagens, que parecem figuras num retrato sépia, tom sugerido no cenário e nos adereços.

Ao borrar o tempo, mais do que evitar anacronismos, o diretor sublinha a atualidade da dramaturgia. A escolha estética opera como um fio invisível que transpassa os séculos 19 e 20 e se situa no presente, quando ainda persiste o debate sobre a condição social da mulher. Se o tema parece atual, sugere a encenação, é porque a hipocrisia vitoriana se mantém intacta até hoje.

Ainda que importantes conquistas sociais e políticas tenham sido obtidas pelas mulheres, elas parecem pouco ou nada impactar a moral, como exemplifica Vivie.

Espécie de yuppie do século 19, ela tem arrogância e conservadorismo que remetem a um millenial do século 21. É como se ainda fôssemos os vitorianos de Bernard Shaw.

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