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Novo álbum de Beyoncé e Jay-Z é o mais fraco da trilogia, mas manifesto negro sustenta trabalho

Lançado de surpresa com vídeo no Louvre, disco de casal sucede 'Lemonade', dela, e '4:44', dele

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São Paulo

Everything Is Love

  • Preço R$ 33,80 a R$ 67,60 no Tidal; disponível também no Deezer, iTunes e Spotify
  • Autor The Carters
  • Gravadora Parkwood and Roc Nation

Beyoncé e Jay-Z encerram uma trilogia não oficial com “Everything Is Love”. O trabalho sucede “Lemonade” (2016), disco dela com citações a infidelidade e depressão, e “4:44” (2017), o álbum dele de confissões, angústia e culpa.

Sonoramente, sobressai o hip-hop de um sobre o rhythm and blues de outra —Beyoncé inclusive rima, e bem. Mas são os significados ocultos que têm concentrado o debate.

Ao ouvinte se abre uma terapia de casal. Se  a narrativa é embalada para consumo, os temas são universais: amor, casamento, filhos, a conexão sob prova e a recompensa aos que sobrevivam à turbulência.

Reconciliados, os Carters disparam contra tudo e todos: o Grammy, a polícia, os rappers Kanye West e Drake. Ele esnoba a liga de futebol americano (“Disse não ao Super Bowl: vocês precisam de mim, não preciso de vocês”); ela, o Spotify (“Se não cagasse para números, teria colocado ‘Lemonade’ no Spotify”).

O verso ecoa a briga de três anos atrás com a gigante do streaming; supostamente revoltado com baixos rendimentos destinados a artistas, Jay-Z comprou a empresa responsável pela plataforma Tidal e abriu concorrência na unha.

Daí que as nove músicas de “Everything Is Love” e uma faixa bônus, “Salud!”, tenham sido lançadas primeiro no Tidal.

Na segunda (18), porém, a exclusividade caiu, e o conteúdo apareceu nas plataformas, em duas versões: uma, com todos os “fucking” e “motherfucker”,  mas com “parental advisory” (aviso aos pais); e outra, com brancos sonoros nos lugares dos palavrões.

Trata-se de recurso usado por artistas para evitar que canções sejam interditadas de playlists e destaques, alcançando mais o público jovem.

Desse detalhe se depreende um elemento essencial: a dupla fala grosso, mas não a ponto de abrir mão dos “cheques e dividendos” sobre os quais se gabam em “Apeshit”.

Afinal, como todo casal magnata, Beyoncé e Jay-Z só pensam naquilo: dinheiro. 

O título do trabalho não diz que “o amor é tudo”, mas que “tudo é amor”. A ordem dos fatores altera o produto: os Carters presentearam o mundo com uma declaração sentimental ou elevaram ao estado da arte a habilidade de transformar drama em grana?

Jay-Z é o rapper mais rico do mundo, com patrimônio equivalente a R$ 3,38 bilhões. E Beyoncé tem R$ 1,3 bilhão e é a artista mais bem paga do mundo hoje, à frente, por exemplo, de Madonna.

Está tudo ali, em citações a faturas, carrões e outros luxos, além de provocações aos círculos de poder brancos: “Meus tataranetos já [são] ricos/ Isso é um monte de criança marrom na lista da Forbes”.

Essa riqueza se dilui em um discurso de militância cujos ecos resvalam na sonoridade, que tangencia gêneros nascidos em guetos negros, como o raggamuffin e o Miami bass.

Ostentação despudorada e orgulho negro são aparentemente incompatíveis frente à pobreza relativa das populações negras, mas não para Jay-Z e Beyoncé; como mais ninguém faria, equilibram um e outro com legitimidade.

As músicas, é verdade, não são tão boas quanto as dos discos anteriores —em especial “Lemonade”, de uma ferida Beyoncé. Por outro lado, os predecessores foram, para muitos, os ápices das carreiras de ambos os artistas.

A capacidade de mobilizar paixão e curiosidade torna relevante ouvir “Everything Is Love” e tirar as próprias conclusões; é uma virtude e tanto.

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