Primeira montagem brasileira de 'O Cavaleiro da Rosa' estreia no Municipal

Entremeada por valsas vienenses, ópera de Strauss narra encontros e desencontros amorosos

CAMILA FRESCA
São Paulo

Em janeiro de 1911, após as experiências radicais de "Salomé" (1905) e "Elektra" (1909), Richard Strauss estreava em Dresden "O Cavaleiro da Rosa" (Der Rosenkavalier).

Os dois títulos anteriores chocaram o público pelo enredo e pela linguagem musical complexa. Seu sucesso transformou o autor num rico compositor. Já em "O Cavaleiro da Rosa", Strauss parecia deixar a ousadia de lado e mergulhar no universo da opereta vienense e da ópera bufa do século 18.

Teria sido um passo atrás? "Acho que foram cinco à frente", afirma Pablo Maritano, diretor cênico da montagem que estreia nesta sexta (15) no Municipal. "'Salomé' e 'Elektra' são obras densas, porém monolíticas. Em 'O Cavaleiro da Rosa', Strauss estabelece diversas camadas musicais: há a música ligeira e a metafísica, além de citações a diferentes períodos e autores, como Mozart, Wagner e Verdi. Nesse sentido, ela é muito mais moderna do que o expressionismo prévio", afirma.

"O Cavaleiro da Rosa" é possivelmente a mais encenada de todas as óperas alemãs do século 20. É provável que esse sucesso se deva em boa parte aos ritmos de valsa presentes na partitura.

"A música é de uma complexidade enorme, mas o tempo todo entremeada pelas valsas vienenses: rápida, lenta, cômica, melancólica, triste", diz Roberto Minczuk, diretor musical do espetáculo.

Tanto o maestro quanto o diretor cênico destacam a proximidade de "O Cavaleiro da Rosa" com "O Morcego", de Johann Strauss (os compositores não possuíam nenhum parentesco).

Mas a semelhança com uma das operetas de maior sucesso de todos os tempos está longe de esgotar todos os significados da obra. "Musicalmente, essa é uma das óperas mais profundas que existem", afirma Minczuk. "Traz nela toda a tradição da música, desde Bach, passando evidentemente por Mozart —alguns personagens inclusive têm uma correlação com 'As Bodas de Fígaro'— mas dialogando também com Beethoven e Wagner. Só que Strauss consegue fazer algo ao mesmo tempo profundo e leve."

A produção brasileira desloca a ação original do século 18 para o começo do século 20.

O libreto de Hugo von Hofmannsthal narra diferentes encontros e desencontros amorosos entre quatro personagens principais: a princesa Maria Teresa von Werdenberg (Marechala); Octavian, jovem cavalheiro que é seu amante (papel cantado por uma mezzo-soprano); o Barão Ochs, primo da Marechala; e a jovem Sophie (filha de um rico burguês).

Alguns anos após a estreia alemã, em 1911, "O Cavaleiro da Rosa" foi ouvida em São Paulo e no Rio, cantada em italiano. Já em 1959, uma companhia alemã fez a versão original em ambas as cidades, em récitas únicas.

Mais recentemente, houve versões em concerto com a Osesp. A produção do Theatro Municipal é, no entanto, a primeira montagem brasileira. "É uma obra pouco feita dada sua complexidade e seu custo, além da necessidade de uma excelente orquestra e solistas", diz Minczuk.

Os personagens principais são desempenhados por Carla Filipcic Holm (Marechala), Dirk Aleschus (Barão Ochs), Luisa Francesconi (Octavian) e Elena Gorshunova (Sophie).


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