Descrição de chapéu

Almir Sater e Renato Teixeira fazem música rural para seduzir gente da cidade

Novo disco da dupla, '+Ar', mostra que a viola de qualidade tem apelo universal

Thales de Menezes

+Ar

  • Preço R$ 26
  • Autor Almir Sater e Renato Teixeira
  • Gravadora Universal Music

Nas últimas décadas, Almir Sater e Renato Teixeira são nomes de uma identificação muito forte com o que pode ser chamada de música “caipira” ou “pantaneira”. Então é surpreendente constatar que o primeiro registro dos dois juntos em um álbum completo de estúdio tenha sido gravado apenas em 2015, no ótimo “AR”.

A dupla de cantores e violeiros volta com mais uma dezena de canções autorais, em outro disco cativante. O título já entrega o conteúdo. “+AR” é praticamente uma continuação do anterior, fazendo crescer um repertório romântico, ao mesmo tempo alegre e tranquilo. São músicas para uma audição “na varanda, vendo o pôr do sol” (exatamente o que eles dizem em versos de uma das faixas).

A sucessão de shows nos meses recentes, que incluiu uma temporada de casa cheia no Teatro Opus, em São Paulo, talvez tenha dado aos parceiros de longa data ainda mais coesão criativa. As músicas de “+AR” soam mais como um trabalho realmente de uma dupla. Os vocais estão em um agradável uníssono evidenciado.

Além de suas carreiras por shows e festivais terem se cruzado intensamente, os dois também têm em comum a proeza de conseguir romper os limites do público sertanejo. Teixeira, 73, desde os anos 1970, quando teve seu trabalho divulgado por Elis Regina e obteve sucesso nacional com a hoje clássica “Romaria”.

 

Sater, 61, pegou carona nas trilhas das novelas muito populares da TV Manchete em 1990 e 1991, “Pantanal” e “A História de Ana Raio & Zé Trovão”. A pinta de galã o alçou ao trabalho de ator nesses folhetins, o que aumentou demais a repercussão dos shows.

Os méritos dessa abrangência popular residem no talento dos dois, juntos ou separados, de flertar levemente com uma música pop mais urbana. Algo que parece natural, orgânico, longe de qualquer pastiche habitual do sertanejo universitário com outros gêneros. O som de Sater e Teixeira é essa música rural brasileira, mas querendo seduzir também os moços da cidade.

A vibração deles está na simplicidade. Um exemplo de apelo popular, para todas as idades e classes, está na ternura de “O Mascate”, canção graciosa que fala do vendedor galanteador que chega à cidade. O mascate pede a presença das “mocinhas em flor”, oferecendo vestido de pura chita. “Para as donzelas sem dinheiro/ aceito beijinhos de amor”, brinca a letra.

O bom humor vinga. Em “Minas É Logo Ali”, eles unem a simplicidade à célebre mania dos mineiros insistirem que longas distâncias são sempre curtas caminhadas para quem é daquelas bandas. “Não fica longe, Minas é logo ali/ depois da curva/ depois da chuva/ depois do vento/ você.”

Em comparação ao primeiro disco da dupla, o novo trabalho é um pouco mais acelerado, numa direção que pode soar simpática a fãs da música country americana. Mas as raízes caboclas ainda ditam o DNA das canções. Sater e Teixeira mostram que a viola de qualidade tem apelo universal.

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