Artista plástico da Mooca tem quadro no acervo da Casa Branca

Mostra joga luz no pintor Durval Pereira (1918-1984), com obras em vários acervos do mundo e esquecido no Brasil

Isabella Menon
São Paulo

“Se me pedirem para pintar um barco, eu pinto. Se me pedirem flores, também pinto. Se me pedirem boiadas, pinto também. Mas ninguém sai da minha casa sem comprar”. A frase era frequentemente dita por Durval Pereira (1918-1984), que completaria 100 anos em 2018.


Em homenagem à carreira do artista e como forma de resgatar sua história, o Memorial da América Latina, na Barra Funda, em São Paulo, recebe a exposição “Durval Pereira -Impressões Brasileiras/100 anos”, com 220 obras do colecionador Hebron Oliveira.


Pereira começou a pintar nos anos 1940 paisagens brasileiras e conquistou prêmios internacionais como, em 1983, da Biennale Mondiale des Métiers d’Art, em Nice, França. Porém, pouco se ouve falar do artista no Brasil. 


O pesquisador Lut Cerqueira afirma que um dos motivos para seu desaparecimento no Brasil é que a maior parte das obras de Pereira estão fora do Brasil. Segundo o pesquisador, suas pinturas estão também em acervos de países como França, Itália, Alemanha, Suécia e África do Sul.


Ele diz também que obras do artista compõem o acervo da Casa Branca, adquiridas por Ethel Kenndy, mulher de Bobby Kennedy, procurador-geral dos EUA no início dos anos 1960.

O interesse pelas obras dele no exterior, diz Cerqueira, está relacionado a atenção ao Brasil nos anos 1940. “Walt Disney acabava de lançar o curta com o personagem Zé Carioca no Brasil. Além disso, Carmen Miranda estourava nos Estados Unidos. Tudo isso fez com o Brasil começasse a ser visto como paisagem e destino turístico.”


Por isso, as paisagens do artista, inspiradas em suas viagens ao redor do país, podem ter chamado mais atenção lá fora do que no Brasil. Já que, pós-Semana de 22, marco no início do modernismo brasileiro, suas pinturas não eram aquilo que o mercado pedia. 


“Ele era impressionista em um momento que ninguém mais era. Isso fez com que ele fosse desconsiderado pela crítica”, diz o pesquisador.


Outro fato que pode ter colaborado no Brasil foi a morte devido um infarto fulminante, aos 65 anos. Depois disso, sua família não conseguiu continuar divulgando seu trabalho.


Pereira também não era representado por galerias: ele mesmo vendia as próprias obras. 


O artista costumava sair de casa com sua boina e sapatos brancos, pois dizia que “todos os grandes artistas franceses usam uma”.Dentro de casa, mantinha produção intensa e pintava de quatro a cinco quadros por dia.


Voltado às paisagens, no final da vida ele cedeu ao mercado e pintou quadros que mesclam o expressionismo e abstracionismo —expostos na mostra. Porém, não gostava do estilo e costumava dizer que “poderia fazer quadros desses com seus pés”.


Durval Pereira
Memorial da América Latina, av. Auro Soares de Moura Andrade, 664. Até 16/9. Ter. a dom. das 9h às 18h. Grátis

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