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'Bergman - 100 Anos' se sai bem ao exibir a parte que revela o todo

Documentário escapa da armadilha de abarcar toda a trajetória do sueco ao abordar só o ano de 1957

Ingmar Bergman dirige Bengt Ekerot em 'O Sétimo Selo' em imagem que integra o documentário 'Bergman - 100 Anos', sobre a vida do cineasta em 1957

Ingmar Bergman dirige Bengt Ekerot em 'O Sétimo Selo'; a imagem integra o documentário 'Bergman - 100 Anos', sobre a vida do cineasta em 1957 Divulgação

Helen Beltrame-Linné

Bergman - 100 Anos (Bergman - Ett år, Ett Liv)

  • Quando Pré-estreia neste sábado (14) em diversas salas do circuito comercial. Estreia prevista para qui. (19)
  • Classificação não informada
  • Produção Suécia, 2018
  • Direção Jane Magnusson

Veja salas e horários de exibição.

Se não existe receita para um documentário de sucesso, há um caminho certeiro para fracassar quando o assunto é Bergman: tentar abarcar toda a sua trajetória.

Até mesmo "A Ilha de Bergman" (2004), tido como o "uberdocumentário" sobre o sueco —por contar com sua aquiescência e participação direta—, restringiu-se a três temas principais: a ilha de Faro, o trabalho em cinema e a atuação no teatro.

A diretora Jane Magnusson já havia mostrado conhecimento dessa máxima com a minissérie "Bergmans Video" (2012), que se centra na variada coleção de fitas VHS do cineasta, e o longa "Trespassing Bergman" (invadindo Bergman, 2013), no qual admiradores célebres falam do sueco, alguns deles de dentro de sua casa na ilha.

Com o centenário do nascimento do diretor, veio a tentação traiçoeira de fazer um retrato que desse conta de sua vida e obra —e Magnusson se lançou ao desafio.

O título insosso do filme no Brasil —"Bergman - 100 anos"— poderia sugerir mais um fiasco documental comemorativo. Mas com "Bergman - Ett år, Ett Liv" (Bergman - um ano, uma vida), a diretora escapou à armadilha ao pôr em foco somente o ano de 1957, a parte que revela o todo.

Na primeira exibição no Festival de Cannes deste ano, Magnusson declarou: "Eu queria fazer um filme comemorativo de Bergman pelo ano de 1957, pois é impressionante o que ele faz naquele ano, mas também mostra o custo de trabalhar tão intensamente".

Estamos no ano de lançamento de duas de suas obras mais conhecidas, "O Sétimo Selo" e "Morangos Silvestres", além da produção de seu primeiro filme para TV, "Herr Sleeman Kommer" (o sr. Sleeman vem) e da encenação de quatro montagens teatrais —incluindo "Peer Gynt", de Ibsen, tido como inadaptável aos palcos até então.

Na vida pessoal, é naquele ano que conhece Käbi Laretei (que se tornaria sua quarta mulher em 1959) e Ingrid von Rosen (sua quinta e última esposa), enquanto mantém um relacionamento com a atriz Bibi Andersson paralelamente ao casamento com a jornalista Gun Grut, que, por razões óbvias, desmoronava.

Ele mal vê os seis filhos que já tem à época, com três mulheres diferentes.

Com depoimentos e imagens de arquivo, o filme passa por temas espinhosos, incluindo o alegado flerte de Bergman com o nazismo e um testemunho tão antigo quanto controverso do seu irmão mais velho.

Há também uma tentativa de acerto de contas com o diretor sob efeito do movimento #MeToo. O documentário estava em produção no auge dos escândalos, e Bergman, afinal, ficou conhecido pelo envolvimento amoroso com atrizes com quem trabalhou.

Diante, porém, da negação generalizada de assédio pelas colaboradoras, sobressai o discurso uníssono sobre a profundidade das personagens que interpretaram na obra de Bergman, algo em que o diretor foi pioneiro.

Com a coragem para passar pelos terrenos pantanosos da biografia do cineasta —e o talento para não se afundar neles—, Magnusson entrega um retrato fresco e criativo de uma figura já tão analisada, inclusive por ela mesma.

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