Descrição de chapéu

Cinebiografia de Egon Schiele funciona porque não o emoldura

Expressionista austríaco morto aos 28 anos é retratado em filme como um tipo incompleto e incoerente

CÁSSIO STARLING CARLOS

Egon Schiele - Morte e Donzela (Egon Schiele: Tod und Mädchen)

  • Quando Estreia nesta quinta (19)
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Noah Saavedra, Maresi Riegner, Valerie Pachner
  • Produção Áustria/Luxemburgo, 2016
  • Direção Dieter Berner

Veja salas e horários de exibição

Vidas de artistas, no cinema, são muito parecidas com as vidas de santos. Alguém descobre ter uma vocação, enfrenta o mundo para afirmar sua fé e, ao final, morre à míngua para mais tarde alcançar a eternidade.

O percurso turbulento do pintor austríaco Egon Schiele (1890-1918), ícone do expressionismo, poderia dar material para esse tipo de retrato romântico que as cinebiografias priorizam. A abordagem do diretor Dieter Berner não evita a fórmula, mas também se esforça para ultrapassá-la.

"Egon Schiele - Morte e Donzela" adota o recurso habitual do gênero de começar pelo fim. Aqui, partimos das imagens de Schiele agonizante, vítima da gripe espanhola que o matou aos 28 anos.

Sua irmã, Gerti, cuida dele até o final e ela é também a primeira da série de personagens femininas cuja importância o filme privilegia.

A dançarina Moa, a modelo Wally e as irmãs Edith e Adele completam a ciranda de conexões afetivas e sexuais do artista. Seus corpos propiciam a abordagem da obra de Schiele sob outro ponto de vista, menos centralizado no homem e no olhar dele, que na época foi considerado "pornografia".

Aqui, mostra-se pouco o processo criativo e tenta-se menos ainda reduzir a obra de Schiele à psicologia ou aos dramas pessoais. O tratamento é outro, portanto, do adotado em "Excesso e Punição" (1980), que conectava a vida e obra do artista em torno de suas aventuras eróticas.

Por isso, o filme não enfatiza apenas o viés sexual de sua relação incestuosa com a irmã e, ao reconstituir o julgamento de Schiele por pedofilia, o faz da perspectiva do testemunho da companheira Wally e não da menina que o acusou.

São escolhas que funcionam bem em dois sentidos. Primeiro, por inserir a obra no tempo, recriando aspectos da moralidade no início do século 20, o que permite compreender o choque do novo de retratar a sexualidade sem os véus do embelezamento.

Segundo, por tratar Schiele não como personalidade emoldurada e sim como personagem, ou seja, como um tipo incompleto, incoerente e, neste sentido, mais vivo do que numa página da Wikipédia.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.