Descrição de chapéu Flip

Colson Whitehead retorna a Paraty, onde decidiu virar ficcionista

Vencedor do Pulitzer é um dos principais autores dos EUA e participa neste sábado (29) da Flip

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O escritor americano Colson Whitehead em Paraty, onde participa da 16ª Flip - Marcus Leoni/Folhapress
Paraty

Colson Whitehead achou que os estampidos eram tiros, e uma guerra civil estourava no Rio de Janeiro. Mas eram só os gols do Brasil, na Copa do Mundo de 1994, em que o país seria campeão. Ele padecia no paraíso.

O americano não tinha dinheiro, estava desencantado com a profissão de jornalista —mas estava no Rio, na Bahia, em São Paulo. Pulava de um hotel mequetrefe para o outro, não dormia por causa das paredes finas e de um vizinho de quarto tuberculoso que tossia a noite inteira.

Passava uma semana em Paraty quando decidiu se dedicar à ficção. Mais de 20 anos depois, volta à pequena cidade colonial com dois filhos —um deles desfilando a camisa 10 da seleção brasileira.

Desta vez está aqui para se apresentar como escritor. O livro que começou a escrever aqui continua inédito —ninguém gostou, afirma—, mas ele lança em Paraty nova edição do primeiro que publicou, "A Intuicionista" (HarperCollins), de 1999.

Fala neste sábado (28), às 17h30, na programação oficial da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).

Hoje, é um dos principais escritores contemporâneos dos Estados Unidos. A fama mundial veio em 2017, quando seu romance "The Underground Railroad" ganhou o prêmio Pulitzer e foi finalista do Man Booker Prize.

O primeiro romance se passa no Departamento de Inspeção de Elevadores, onde há dois tipos de profissionais: os empiristas, que verificam os menores detalhes de cada elevador, e os intuicionistas, que são capazes de saber se há um defeito usando a intuição.

Até que um elevador despenca no turno de Lina Mae Watson, primeira mulher negra a trabalhar no departamento. Os empiristas, claro, tentarão culpar seus rivais.

"Quis pegar a estrutura do romance policial e torná-la estranha. Ler uma estrutura que funciona me ajudou. O romance policial serviu de modelo. Do meu primeiro livro ninguém gostou", diz ele, que era leitor de James Ellroy e Elmore Leonard na juventude.

Já o outro livro, o sexto de sua carreira, narra a fuga de uma escrava chamada Cora em busca da liberdade.

"Demorei cinco anos para a ideia poder funcionar, porque primeiro odiei o livro em termos de estrutura", conta ele, que se debruçou sobre as memórias de escravos americanos, como "Incidents in the Life of a Slave Girl" (acontecimentos na vida de uma escrava, em tradução livre), clássico de Harriet Ann Jacobs (1813-97).

Whitehead é um escritor que gosta de metáforas e alegorias —mas se recusa a dar qualquer interpretação, por exemplo, sobre o que quis dizer sobre temas políticos e raciais em "A Intuicionista" ou outros livros.

"Você pode tentar pensar no que significa a verticalidade no livro, mas deixo a interpretação aberta aos leitores. Não há uma mensagem específica que queira passar, por isso o final é aberto e ambíguo."

O romance poderia ser descrito como um exemplar do afrofuturismo —ramo da literatura fantástica que trata de temas raciais pela ficção científica—, mas Whitehead não gosta da definição.

Ele se sente menos afiliado a Octavia A. Butler, expoente dessa escola, do que a Toni Morrison, Herman Melville e Thomas Pynchon. "Não me importo com esse tipo de definição. [Quando era jovem] não jogava futebol, só via 'Além da Imaginação', lia Stephen King... A fantasia me parecia o meio mais legítimo de tratar do mundo", diz.

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