Descrição de chapéu Artes Cênicas

Comédia com Sandra Pêra e Roney Facchin questiona diferenças e preconceitos

Texto de Julia Spadaccini, vencedor do Shell-Rio de 2013, ganha nova montagem em São Paulo

Sandra Pêra, Miriam Mehler e Roney Facchini em imagem de divulgação da peça "A Porta da Frente"
Sandra Pêra, Miriam Mehler e Roney Facchini como seus personagens em "A Porta da Frente" - Caio Gallucci/Divulgação
MLB
São Paulo

É modorrento o dia a dia de uma família em seu apartamento de classe média em Copacabana. O pai é um corretor desgostoso da profissão, a mãe se contenta com um namoro virtual com um desconhecido e os filhos adolescentes não se encaixam.

Tudo muda quando chega um novo vizinho, que cria um misto de espanto e afeto. "A Porta da Frente", começa como uma comédia ligeira, mas aos poucos revela os nós do preconceito e a dificuldade em lidar com o diferente.

O texto de Julia Spadaccini, vencedor do Shell-Rio de 2013, ganha nova montagem neste sábado (7), em São Paulo, com direção de Marcelo Varzea.

De início, o patriarca Rui (Roney Facchin) empurra sua vida de corretor de imóveis —"traça é sinônimo de madeira boa", "tem vista para a favela". Lenita (Sandra Pêra, irmã da atriz Marília Pêra e uma das idealizadoras da montagem) se derrete com seu amor virtual sem ao menos saber seu rosto ou seu nome.

Os gêmeos Natália (Greta Antoine) e Jonas (Bruno Sigrist) vivem como gato e rato e até demarcam uma linha no quarto em que dividem para que um não invada o espaço do outro. Dona Marilu (Miriam Mehler), mãe de Lenita, parece perdida em alucinações e memórias do passado.

"Esses personagens não se olham quase a peça inteira", ressalta o encenador.

Quando o professor de canto Sasha (Fabiano Medeiros), se muda para o apartamento ao lado, logo irrita a família. Lenita reclama da música alta, mas o que a incomoda mesmo é não saber definir o vizinho.

Ele é crosdresser, um homem que se veste com roupas femininas, mas é declaradamente heterossexual. A família, no entanto, só consegue chamá-lo de travesti —e com muito engasgo.

Por vezes a lucidez parece vir da desacreditada Marilu: "Interessa ser um homem de verdade? E o que é um homem de verdade?", questiona ela.

Sasha é um nó na garganta da família, mas, de certo modo, passa a ajudá-los. Rui, que surge para pedir silêncio ("minha mulher tem dor de cabeça") acaba descobrindo um gosto pelo canto. Jonas vai lá tirar satisfações e acaba por sair com conselhos amorosos.

A encenação busca fugir do realismo. O cenário de Camila Schimidt é divido em três: a sala da família, o quarto dos garotos e casa de Sasha. O público acompanha cada canto da cena de acordo com a iluminação, que ora ressalta apenas um cômodo, ora mais de um.

O fundo, em alambrado ou cobogós, remete a instalações com jaulas da artista plástica francesa Louise Bourgeois (1911-2010). "É um espaço no qual você vê através dessas estruturas, as coisas vão descortinando", explica Varzea.

A Porta da Frente

  • Quando Sáb., às 19h, e dom., às 20h. Até 9/9
  • Onde Teatro Renaissance, al. Santos, 2.233
  • Preço R$ 70 (dom.) e R$ 80 (sáb.)
  • Classificação 12 anos
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