Descrição de chapéu

Construção do drama de 'Custódia' se dá em torno da imagem corporal dos atores

Em seu primeiro longa, Xavier Legrand força a emoção no limite, mas evita derramamento

Cássio Starling Carlos

Custódia (Jusqu’ à la Garde)

  • Quando Estreia nesta quinta (5)
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Léa Drucker, Denis Ménochet, Thomas Gioria, Mathilde Auneveux
  • Produção França, 2017
  • Direção Xavier Legrand

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O cinema francês contemporâneo especializou-se em dois tipos de filmes. Um, ligeiro e romântico, faz tudo para manter a crença de que comer e beber bem é sinônimo do bem viver. Outro, duro e difícil, denuncia fraturas sociais, é pessimista sobre o presente e o futuro e estraga a noite de quem saiu de casa em busca de prazeres. “Custódia” faz parte deste grupo.

Em seu primeiro longa, Xavier Legrand, premiado como melhor diretor no Festival de Veneza de 2017, mama direto na fonte de Maurice Pialat, cineasta muito mais influente sobre a jovem geração francesa do que os papais da Nouvelle Vague.

O lado ruim da vida foi uma obsessão que Pialat cultivou como poucos com seu estilo naturalista seco e seu mal-humor notório.

Os primeiros 15 minutos de “Custódia” se passam durante uma audiência em que um casal em ruptura disputa a partilha dos filhos enquanto uma juíza levanta expressões de desamor de um lado e do outro.

Ali, quase em silêncio, Léa Drucker e Denis Ménochet, nos papéis da mãe e do pai, demonstram que Xavier Legrand privilegia mais os sinais corporais —olhares, posturas, tensões— do trabalho do ator do que a fala, restrita à juíza e às advogadas.

Drucker é franzina e rija, enquanto o físico de ogro de Ménochet dá peso à rudeza de Antoine. A construção do drama em torno da imagem corporal dos atores também se estende aos coadjuvantes, todos escolhidos para projetar uma forte impressão de verdade.

Dessa maneira, esse tipo de cinema consegue dar mais concretude às relações de força, de dominação, de abuso do que muita falação que se escuta nos filmes de discurso.

Trata-se de um estilo que não se alcança somente copiando os procedimentos de encenação de outro cineasta. Para ser convincente, seu resultado depende da direção dos atores no sentido do controle, de saber levá-los a se esticar como uma corda sem deixar que ela se rompa, forçar a emoção no limite, mas evitar o derramamento.

É o que “Custódia” ambiciona e consegue muitas vezes, embora ao final o filme também deixe a impressão de que pode ser apenas mais um exercício bem feito, como dezenas de outros consagrados em festivais até que o ano seguinte traga outra fornada de promessas.

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