Entre os principais nomes do samba atual, Moacyr Luz lança álbum 'Natureza e Fé'

Músico carioca também escreveu um livro de crônicas, 'O Rio do Moa'

Compositor Moacyr Luz lança segundo CD, Natureza e Fé
O artista carioca Moacyr Luz, que lança o CD 'Natureza e Fé' e o livro 'O Rio do Moa' - Leo Aversa/Divulgação
Luiz Fernando Vianna
Rio de Janeiro

Em 1988, Moacyr Luz realizou seu primeiro disco, com belas canções, mas sem gravadora nem dinheiro. Permaneceu um compositor pouco conhecido.

Trinta anos depois e aos 60 de vida, o artista carioca lança o CD “Natureza e Fé” estando firme entre os principais nomes do samba na atualidade.

Além de ser coautor de dois sucessos de Zeca Pagodinho (“Vida da Minha Vida” e “Toda Hora”), ele tem hoje o reconhecimento de grandes sambistas. Martinho da Vila e Jorge Aragão participam do CD em faixas que compuseram com Luz: “Na Ginga do Amor” e “Samba de Obá”, respectivamente.

Nem sempre foi assim. Sem um passado ligado ao samba e tendo como maior sucesso um tema romântico de novela (“Coração do Agreste”, da novela “Tieta”, de 1989/90), recebeu olhares tortos quando resolveu se dedicar prioritariamente ao gênero, nos anos 1990.

“Estou me sentindo na melhor fase da minha vida. E acho que mereço. Trabalhei muito, quebrei muita pedra nestes 40 anos”, diz ele, recuando até os primeiros passos na música.

Luz evita transparecer ressentimentos ou autocomiseração. Não gosta de falar de seu problema de saúde, o mal de Parkinson, nem trabalha menos por isso.

Há 13 anos, comanda o Samba do Trabalhador, roda que, ironicamente, acontece toda segunda-feira no clube Renascença, no Andaraí, Zona Norte do Rio. Foi realizada até em 25 de dezembro e 1º de janeiro. Chega a ter mil pagantes.

O sucesso do evento fez Luz encarnar o que se imagina ser o “típico carioca”. Contribuiu ele ter escrito dois livros sobre botequins, em 2005 e 2008. Arriscou-se a virar uma figura folclórica.

“Aconteceu o mesmo com o [cartunista] Jaguar, que é um gênio. Eu não me atenho muito a isso, vou fazendo as coisas”, afirma ele, que também está lançando um livro de crônicas, “O Rio do Moa”.

Resolveu há alguns anos se envolver com sambas-enredo. No Carnaval de 2018, foi um dos autores do samba que levou a pequena Paraíso do Tuiuti ao vice-campeonato.

Ao parar de compor com Aldir Blanc, seu parceiro mais constante, tomou coragem para escrever. É o que tem feito com maior frequência. Das 12 faixas de “Natureza e Fé”, oito têm, pelo menos, alguns versos dele.

Duas músicas do repertório são parcerias com alguém nada associado ao samba: Fagner. O artista cearense faz duo em “Samba em Vão”.

“Nós nos encontramos por acaso no supermercado. Nunca tínhamos conversado. Tomamos duas garrafas de vinho e decidimos compor. Já fizemos dez”, conta.

O CD também não tem a sonoridade típica do samba. Na base há piano (Fernando Merlino), baixo (José Luiz Maia) e bateria (Camilo Mariano), além dos violões de Carlinhos 7 Cordas.

“O Merlino é do meu tempo de Méier [bairro da Zona Norte do Rio], conheci quando eu tinha 16 anos. Como é um disco comemorativo, quis fazer alguns reencontros”, diz.

Ele incluiu no CD “Jorge da Cavalaria”, criação com seu primeiro parceiro, Serjão; “Conto de Fadas”, inédita com Luiz Carlos da Vila (1949-2008); e “Chapéu Panamá”, inédita com Wilson das Neves (1936-2017) e Mestre Trambique (1945-2016).

Na ala dos parceiros mais novos do que ele estão Hamilton de Holanda (“No Baile do Almeidinha”), Pretinho da Serrinha e Fred Camacho (ambos em “Atravessado” e “Gostei do Laiá-laiá”), além de Teresa Cristina, que canta praticamente sozinha “Natureza e Fé”, e Zélia Duncan, que canta totalmente sozinha “Gosto”.

“Estou deixando de ser centralizador. Não toquei violão no disco, me preocupei em cantar. Às vezes nem isso. A música da Zélia era muito a cara dela”, explica.

Natureza e Fé

Moacyr Luz. Gravadora: Biscoito Fino. R$ 31,90 (CD)

O Rio do Moa

Moacyr Luz. Ed. Mórula. R$ 35 (136 págs.)

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