Descrição de chapéu Flip

'Estão aqui, sim', diz pesquisadora sobre almas penadas em Paraty

Mesa no último dia da Flip ecoa fase em que Hilda Hilst tentava contato com os mortos

Thereza Maia em mesa 'mal-assombrada' em Paraty - Walter Craveiro/Divulgação
Guilherme Genestreti
Paraty

Pesquisadora das histórias de fantasmas de Paraty, Thereza Maia tem certeza de que há mais mortos do que vivos a zanzar pelas ruas de pedra da cidade. Até mesmo durante a Flip?, perguntam. Ela não sabe essa resposta. “Mas eles estão aqui, sim”, diz.

A historiadora foi convidada a falar das almas penadas da cidade fluminense no último dia do festival literário, neste domingo (29). O tema ecoa a fase em que a escritora Hilda Hilst, homenageada da edição, tentou falar com os mortos.

Além de Maia, o debate contou com a presença do escritor baiano Franklin Carvalho, que também flerta com a morte; ele é autor do romance “Céus e Terra” (ed. Record), protagonizado por um menino-defunto.

“Cresci cercado de medos, mas houve uma hora em que achei que tinha que encarar isso”, conta o escritor. Seu personagem, Galego, é “um menino que sai do cemitério e começa andar pela cidade à procura do que falam do além”.

Autora de “Paraty: Encantos e Malassombras”, Maia empilhou histórias sobre os vários fantasmas e demônios da cidade. Os principais:

– A noiva sedenta. Após morrer de escarlatina, uma moça foi logo enterrada. O noivo, inconformado, dizia que a mulher morreu com sede. Anos depois, ao remexer nas catacumbas, viram que o caixão estava aberto e que sua mão implorava por algo. O fantasma dela ronda pela cidade com uma jarrinha, vai até o chafariz e volta.

– O dançarino do pé de cabra. Numa xiba (dança típica), conta-se que uma moça bailou a noite toda com um moço que tinha os pés de cabra. “O Coisa”, segundo Maia, morava numa gruta perto do mar e gargalhou que ninguém percebeu quem ele era. O pai da garota ficou preocupadíssimo; depois de ter dançado daquele jeito, ia ser difícil achar marido.

– O caso da rua Dona Geralda. Isso aconteceu no próprio sobrado em que mora a historiadora. Após uma desilusão amorosa, um tipógrafo deu cabo da sua própria vida num quartinho. Até hoje, diz, ouve-se o barulho das chaves que ele joga na mesa “após voltar do serviço”.

– A canoa dos 12. “É um terror do mar”, define Maia. Trata-se um barco com vários remadores alucinados. E nenhuma outra embarcação pode chegar perto deles, ou são derrubados.

– A canoa dos 30. Essa se refere ao navio em que noiva, noivo e convidados naufragaram no dia do casamento. Quem cruza o mar a caminho das ilhas locais pode ver os fantasmas dos náufragos convidando para uma grande festa.

​A historiadora diz que não teve medo algum das histórias que ouviu. “Quanto mais contato eu tinha, mais eu gostava”, disse ela, que diz que o sobrenatural ronda a cidade desde que ela foi fundada.

​“Quando o Diabo perguntou a Deus o que sobraria a ele na Terra, Deus apontou um lugarzinho no mapa: ‘É para ti’. É por isso que aguardente aqui é boa.”

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