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Experiência vivida norteia seleta de artigos de Djamila Ribeiro

'Quem Tem Medo do Feminismo Negro?' trata da negritude no Brasil

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Djamila Ribeiro, autora de 'Quem Tem Medo do Feminismo Negro?' - Acervo Pessoal
JULIANA DE ALBUQUERQUE

Quem Tem Medo do Feminismo Negro?

  • Preço R$ 29,90 (152 págs.); R$ 19,90 (e-book)
  • Autoria Djamila Ribeiro
  • Editora Companhia das Letras

Em 1997 a psicóloga Beverly Daniel Tatum publicou um estudo sobre o racismo nos Estados Unidos, demonstrando como práticas de segregação afetam a dinâmica das nossas interações sociais.

Segundo a autora, algumas comunidades teriam menos dificuldade para adaptar-se à diversidade populacional do que outras. Embora conflitos sejam inevitáveis, negros e hispânicos conviveriam entre si com mais facilidade do que com asiáticos e os demais grupos étnicos.

Este tipo de convívio é retratado magistralmente pelo cineasta Spike Lee em "Faça a Coisa Certa" —que demonstrando, entre outras coisas, a tese de Tatum de que, em questões raciais, a população branca do país seria surpreendentemente mais isolada e, consequentemente, mais alienada do que as outras.

Pergunto-me se este diagnóstico seria aplicável ao convívio social brasileiro e penso estar aí a razão do medo que muitos demonstram do feminismo negro.

Recentemente lançada pela Companhia das Letras, uma coletânea de artigos escritos por Djamila Ribeiro para a revista Carta Capital e, entre outros, para a Folha, "Quem Tem Medo do Feminismo Negro?" trata da experiência da negritude no Brasil e, principalmente, da imagem que a nossa cultura faz da mulher negra, ora hipersexualizada na figura da mulata carnavalesca, ora dessexualizada pela imagem da guerreira ou no papel da mulher subserviente e maternal ao estilo da Tia Nastácia de Monteiro Lobato.

A mulher negra no Brasil traria na pele a marca do preconceito que lhe impede de exercer plena autonomia.

Em seus textos, Ribeiro descreve todas essas situações, revelando, a partir de uma narrativa construída no conceito da "experiência vivida", a distinta influência de Simone de Beauvoir em seu pensamento.

Beauvoir também se faz presente nos textos de Ribeiro por meio da maneira como ela aborda o tema da autonomia da mulher negra em um discurso fenomenológico sobre a liberdade enquanto devir ou possibilidade de transcendência.

No entanto aqui se faz necessário observar que a principal mensagem de Djamila Ribeiro no compêndio em foco não seria primariamente acadêmica, porém de ativismo.

Assim deixo claro, para quem estiver em busca de materiais didático sobre o feminismo negro, que, apesar de reunir uma série de ideias e impressões interessantes, bem como despertar o interesse do leitor por outras vozes negras tais como as das escritoras norte-americanas Maya Angelou e Audre Lorde, o livro de Djamila Ribeiro não é um ensaio científico.

Portanto deve-se complementar a leitura da coletânea com as sugestões bibliográficas oferecidas pela própria autora ao final do volume.

Vale a pena ler Djamila Ribeiro? Evidente!

Embora a minha própria abordagem feminista ressalte a importância da psicologia individual para o exercício da autonomia da mulher, considero bastante enriquecedora a interlocução com abordagens distintas.

Assim, a perspectiva oferecida pela autora, embasada numa análise política das questões raciais da nossa comunidade, merece atenção.

Ora, indivíduo e comunidade são duas faces de uma mesma moeda e, por isso mesmo, apesar de distintas, acredito que as nossas perspectivas poderiam ser complementares.

Destarte, artigos como " Máscara do Silêncio", "A Mulata Globeleza: Um Manifesto", "Simone de Beauvoir e A Imbecilidade Sem Limites dos Outros" e "O Feminismo Negro Para Um Novo Marco Civilizatório" são leituras que muito me atraem.

No entanto vale ressaltar que "A Máscara do Silêncio" é o artigo de maior expressão e coerência estilística de toda a coleção.

Trata-se, por isso mesmo, de um excelente objeto de debate entre distintas interpretações do feminismo; faz valer a ideia da autora de que "pensar como as opressões se combinam e se entrecruzam, gerando outras formas de opressão, é fundamental para se considerar outras possibilidades de existência".

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