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Figueira da Casa do Sol concede desejos a escritores

Hilda Hilst, que acreditava na magia da árvore, mudou-se para o local em 1966

A árvore bicentenária e a mesa com cadeiras de pedra que Hilst construiu em 1964, em Campinas   - Marlene Bergamo/Folhapress
IVAN FINOTTI
Campinas

A figueira tem mais de 200 anos, atestou um agrônomo que passou por lá há algum tempo. Figos ela não dá aos humanos —apenas morcegos e pássaros comem os frutinhos. Mas dá desejos.

Os mais famosos foram os concedidos ao escritor Caio Fernando Abreu, conta Olga Bilenky, que mora na Casa do Sol desde meados dos anos 1970, quando dividia o teto com seu companheiro José Luis Mora Fuentes e a dona do lugar, Hilda Hilst.

E foram nada menos do que três de uma vez, conforme narram as biógrafas de Hilda, Laura Folgueira e Luisa Destri, em "Eu e Não Outra" (ed. Tordesilhas).

Era 1969 e Caio passava longas temporadas na Casa do Sol com Hilda. Mas ele queria mesmo era morar no Rio de Janeiro, ganhar um prêmio literário e, ainda por cima, ter voz grossa, pois a sua o envergonhava.

Certa noite, o escritor gaúcho de 21 anos se aproveitou de uma lua cheia e despejou os três desejos de uma vez só.

Segundo as biógrafas de Hilda, os pedidos foram se sucedendo dia a dia. Primeiro recebeu uma carta com um convite para morar no Rio.

Em seguida, exercícios num gravador provaram o engrossamento das cordas vocais. Para terminar, seu conto "Inventário do Irremediável" arrebatou o prêmio Fernando Chinaglia de 1970.

"A Hilda tinha certeza sobre a figueira. Acreditava mesmo", atesta Olga. "E todo mundo acreditava atrás dela."

Olga enumera outras magias: seu companheiro, na fila do transplante renal, pediu um rim (apareceu); Hilda teve um câncer no início dos anos 2000 e a figueira facilitou o tratamento.

"E teve a Lygia Fagundes Telles, né? Mas eu não revelo o que ela pediu", faz mistério Olga. Seu filho é Daniel Fuentes, presidente do Instituto Hilda Hilst e herdeiro das obras da autora. Ele também acredita no poder da figueira:

"Eu estava saindo de uma relação péssima e pedi uma namorada bonita, inteligente. Dias depois, estava junto com a Paula [Santiago, atriz e atual mulher de Daniel]."

"A figueira é tão importante que ela construiu a casa aqui por causa dela. Todo esse bairro, agora um condomínio fechado era a fazenda São José, da mãe da Hilda. Ela escolheu esse pedaço para ela por causa da figueira, que já acreditava ser poderosa."

Hilda se mudou do agito de São Paulo para a introspecção da roça em 1966, aos 36 anos. A primeira coisa que construiu, ainda em 1964, foi uma mesa e algumas cadeiras de pedra ao pé da árvore.

Atualmente, Daniel e sua mãe tocam a Casa do Sol e o Instituto Hilda Hilst (hildahilst.com.br), que recebe visitantes, fãs e moradores temporários, interessados em desenvolver projetos num ambiente idílico (sem piscina).

Outro componente curioso da biografia de Hilda —além de tentar falar com mortos via rádio, como mostra o filme "Hilda Hilst Pede Contato", de Gabriela Greeb— é que ela conta ter tido contatos imediatos com discos voadores.

É Olga quem descreve: "Ela estava lendo e saiu para a varanda. Aqui, à direita, viu um disco pousado com luzes laranja. Entrou para chamar o marido para ver, e quando saíram, ele tinha ido embora".

"Não foi a única experiência visual. Ela contava ver bolas azuis no quarto", lembra Olga.

"Veja só, eram os anos 1970, 1980. Hilda era fascinada por esse mundo do misticismo, da parapsicologia. Você lembra da revista 'Planeta'? Tem a coleção completa aqui."

"Parece coisa de gente louca, mas você lê a obra dela e percebe como ela era hiper-lúcida."

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