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“Mãe, quando você olha o seu vestido de noiva, você se lembra da igreja, da festa, da valsa, dos presentes?” “Não. Me lembro da época em que eu cabia nele.”
O diálogo acima, parte de uma charge publicada na Folha em maio de 2009, é uma pequena amostra do jeito descontraído que Maitena Burundarena retrata o universo feminino e seus dilemas. Melhor rir do que chorar pelas nossas tragédias particulares...
Conhecidos em mais de 40 países, por aqui, os quadrinhos da cartunista e escritora argentina também serviram de inspiração ao filme “Mulheres Alteradas”, do diretor Luis Pinheiro, com roteiro de Caco Galhardo. A parceria vem desde o seriado “Lili, a Ex”, exibido no canal GNT.
Já na apresentação das personagens, o público encontra uma proposta diferente. Apesar do elenco recheado de estrelas globais, o longa-metragem anda na contramão das incontáveis comédias nacionais que desembocam sempre no mesmo formato.
A grande sacada da adaptação é manter um papo reto (e divertido) com a versão original, encaixando na tela não só o humor sarcástico das tirinhas de Maitena, mas, principalmente, a linguagem estética das HQs.
Por isso, vale apostar no exagero, nas cores fortes, nos efeitos especiais, na edição ágil, quase frenética. Vale brincar com as atuações caricatas; vale incluir ilustrações que remetem aos traços da autora no meio da história; vale misturar o possível e o absurdo; vale não se levar a sério nem por um minuto.
Inspiradas, Alessandra Negrini (Marinati), Deborah Secco (Keka), Monica Iozzi (Sônia) e Maria Casadevall (Leandra) mergulham nesse jogo e se reúnem para dar tons tragicômicos aos dramas universais da mulherada, em papéis que funcionam como arquétipos.
Tem a workaholic pegadora-desapegada que se perde numa paixão quando a carreira está prestes a decolar; a mal-casada que tenta salvar o relacionamento falido a qualquer custo; a mãe de dois filhos que sente falta da balada; e a baladeira de 30 anos que entra em crise porque cansou da balada.
As possibilidades narrativas, então, ficam bastante limitadas. Não existe uma trama elaborada por trás das trajetórias das protagonistas --elas apenas passeiam pelas crônicas do cotidiano feminino. O resultado é um discurso bem-humorado, mas que abraça o lugar-comum.
A criatividade, de fato, se manifesta muito mais na forma do que no conteúdo --o que não compromete o conjunto da obra. "Mulheres Alteradas" revela seu valor na linguagem visual ousada, no texto leve e no feminismo irreverente que resgata com habilidade dos cartuns de Maitena.
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