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Artes Cênicas

'Justa' apoia toda sua estrutura sobre metáforas e alegorias

Obra apresenta reflexão sobre como lidar com o descrédito no cenário político

amilton de azevedo

Justa

  • Quando Qui. a sáb., às 21h, dom. e feriados, às 18h. Até 22/7
  • Onde Sesc 24 de Maio, r. 24 de Maio, 109
  • Preço R$ 12 a R$ 40
  • Classificação 18 anos

Atualmente, a população brasileira acompanha com descrédito o cenário político. A ética parece inexistir para aqueles que acompanham o noticiário e suas novidades cada vez mais escabrosas.

Partindo desta insatisfação geral, a Odeon Companhia Teatral apresenta, em “Justa”, uma reflexão acerca de como lidar com isso. Entre a passividade da apatia e o radicalismo da ação, o que fazer?

No interessante texto de Newton Moreno, um político é assassinado com traços de perversidade. Suas acusações, mais do que o motivo, foram também o modus operandi do homicida. Para investigar o caso, um oficial (Rodolfo Vaz) é designado.

A narrativa tem ares de filme policial noir. Os elementos da encenação optam por não sublinhar esta atmosfera —uma mesa, duas cadeiras e diversos televisores compõem o cenário. Se às vezes os aparelhos complementam a narrativa, em outras têm a função de gerar certo estranhamento.

Uma pista leva o oficial a uma casa de prostituição que recebe políticos. As prostitutas são todas interpretadas por Yara de Novaes. Com a dramaturgia de Moreno centrada na relação do protagonista com essas mulheres, a direção de Carlos Gradim opta por uma construção menos realista de Novaes. A personalidade de cada prostituta se torna uma máscara que realça certas características.

O dado pornográfico é um elemento recorrente. Além de exibição explícita em vídeos, diversas passagens relatam e representam atos sexuais. Tal ideia parece dialogar com o pensamento de que vivemos em uma sociedade pornográfica: tudo está exposto.

Ainda assim, a obra apoia toda sua estrutura sobre metáforas e alegorias. A prostituta Justa, ética no fazer e no discurso, encanta o investigador da mesma forma que muitos ainda alimentam um resíduo de esperança no país.

No entanto, na fala final de uma das personagens interpretadas por Novaes, um contundente discurso, o espetáculo acaba por diminuir sua potência reflexiva ao endereçar, literalmente, as questões levantadas. 

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