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Helio Eichbauer, cenógrafo de 'O Rei da Vela', morre aos 76 anos

Um dos mais importantes de sua área, Eichbauer produzia cenários para espetáculos teatrais e shows

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O cenógrafo Helio Eichbauer
O cenógrafo Helio Eichbauer - Ricardo Moraes/Folhapress

Um dos mais importantes cenógrafos do Brasil, o carioca Helio  Eichbauer morreu nesta sexta (20), no Rio. Ele tinha 76 anos e sofreu um infarto. O velório será neste sábado, na Capela 8 do Memorial do Carmo, no Rio, entre as 10h e as 16h.

Eichbauer foi responsável, dentre outras produções, pelo cenário da montagem histórica de 1967 do Teatro Oficina para "O Rei da Vela", peça de Oswald de Andrade. Quando a peça reestreou, no ano passado, foi ele quem reconstruiu os cenários da primeira versão.

Além do trabalho no teatro, Eichbauer produzia cenários para shows e tinha como parceiros Chico Buarque (é dele a cenografia da turnê "Caravanas") e Caetano Veloso (também assina o cenário de "Ofertório", além de muitos outros shows do cantor e compositor).

Caetano, influenciado por "Rei da Vela", a que assistiu diversas vezes, aproveitou o cenário do espetáculo em um disco seu. A cenografia do segundo ato da peça tornou-se capa do disco "Estrangeiro" (1989), do baiano.

BERLIM E CUBA

Eichbauer foi um dos principais renovadores da cenografia moderna no Brasil. Em vez de descrições ou ilustrações, ele usava da metáfora e da livre interpretação em seus projetos. Segundo o crítico Sábato Magaldi (1927-2016), sua cenografia "não cria apenas um ambiente, mas funciona como um órgão vivo, que projeta, ilustra e até contradiz a ação dramática".

Ele estudou cenografia e arquitetura cênica em Praga, de 1962 a 1966, sob orientação de Josef Svoboda , então um dos maiores profissionais da área no mundo. Eichbauer depois estagiou no Berliner Ensemble e na Ópera de Berlim, além de trabalhar na França e na Itália.

Em Cuba, em 1967, trabalha com o célebre diretor Vicente Revuelta no  Teatro Studio de Havana. É em parte nessa experiência que ele se inspirou para a cenografia de "O Rei da Vela", como explicou à Folha no ano passado, no cinquentenário do espetáculo:

"Conheci Zé [Celso] e Renato [Borghi] em Praga em 1964, eles me chamaram para o Oficina quando terminasse o curso com o [cenógrafo Josef] Svoboda. Mas fui para Cuba e fiquei lá um ano, trabalhando. Vim com essa experiência de Havana, da revolução tropical, e empreguei a cor no 'Rei da Vela'. É uma peça a partir dessa colagem que foi o teatro futurista e cubo-futurista russo, com o pé no Brasil do modernismo. Mistura vaudeville, circo, ópera. Na realidade de uma época de censura, ditadura, criamos um delírio tropical."

Pelo trabalho, ele recebeu os prêmios Governador do Estado de São Paulo e da APCT (Associação Paulista de Críticos Teatrais).

São deles também os cenários de "Antígone", de Sófocles, em montagem do Grupo Opinião, em 1969; "Os Veranistas", de Máximo Gorki, com direção Sergio Britto, em 1978; "Calabar" (1980), de Chico Buarque e Ruy Guerra; "As Três Irmãs", de Tchékhov, com direção de Enrique Diaz, em 1999.

Caetano Veloso apresenta o show "Ofertório" ao lado dos filhos Tom, Zeca e Moreno
Caetano Veloso apresenta o show "Ofertório" ao lado dos filhos; cenário é de Eichbauer - Marcos Hermes/Divulgação

Também participou de filmes como "Tudo Bem" (1978), de Arnaldo Jabor, "Dragão da Maldade contra o Santo Gerreiro" (1969), de Glauber Rocha, e "Kuarup" (1989), de Ruy Guerra

Além de Caetano e Chico, trabalhou em shows de Gal Costa, Marisa Monte e Adriana Calcanhoto.

Por contribuição ao longo de 50 anos pela renovação da cenografia teatral brasileira, ele foi o grande homenageado da edição do ano passado do Prêmio Shell no Rio. 

Ele deixa a mulher, Dedé Gadelha Veloso (primeira mulher de Caetano), com quem Eichbauer viveu por 20 anos.

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