Quem assistiu aos shows da big band formada pelo pianista Nelson Ayres na década de 1970, em São Paulo, costuma provocar inveja nos que não estavam lá para ver. Formou-se na época um culto às apresentações dos exímios instrumentistas na casa noturna Opus 2004 e em outros endereços lendários.
Agora está mais fácil para todos terem acesso à concepção de big band criada pelo músico, compositor, arranjador e regente de 71 anos. A Nelson Ayres Big Band lança nesta sexta (13), no Sesc Pinheiros, seu primeiro álbum, que une com singularidade e bom gosto o jazz e a música popular.
Músicos de várias gerações participam do disco, de integrantes originais a instrumentistas que nem eram nascidos em 1972, quando Ayres retornou de três anos na Berklee School of Music, em Boston, para montar o grupo.
A Big Band tocou regularmente até 1980, quando Ayres seguiu a carreira em várias frentes, entre as quais se destacam seu trabalho como maestro da Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo e a formação do quinteto Pau Brasil, ainda hoje o grupo brasileiro de jazz de maior alcance na cena mundial do gênero.
O retorno da Nelson Ayres Big Band começou a ser arquitetado em 2015. Para finalmente levar a pegada de som encorpado e dançante ao estúdio, Ayres chamou 17 solistas e tratou de montar um repertório para contemplar o talento de todos.
Cinco das dez faixas são composições do próprio Ayres. "Olé!", animada abertura do disco; "Organdi e Gomalina", samba inspirado em um casal de dançarinos de gafieira; a envolvente "A Arte de Voar"; "Vitor", tributo ao amigo e saxofonista Victor Assis Brasil (1945-1981); e "Só Xote", momento leve e divertido para fechar o trabalho.
A outra metade do disco pega emprestado de figurões da MPB músicas que ganham arranjos que vão do tratamento ousado ao respeitoso. As escolhas: Tom Jobim ("Corcovado"), Gilberto Gil (a menos conhecida "Fechado pra Balanço"), Léa Freire ("Risco"), Jackson do Pandeiro ("Sebastiana") e Moacir Santos ("Amphibious", deslumbrante e desafiadora na execução).
No show, algumas poucas mudanças de formação.
A big band no Sesc Pinheiros terá, além de Ayres no piano, a bateria de Ricardo Mosca, o baixo de Alberto Luccas, os trompetes de Bruno Belasco, João Lenhari, Nahor Gomes e Sidmar Vieira, os saxofones de Cássio Ferreira, César Roversi, Lucas Macedo, Mauro Oliveira e Ubaldo Versolato, e os trombones de Diego Calderoni, Fabio Oliva, Joabe Reis e Roberto Sales.
Para a apresentação, Ayres convidou a cantora Lívia Nestrovski, que também tem se dedicado a fusões.
Com as músicas do álbum, o repertório deve incluir "Tico-Tico no Fubá", de Zequinha de Abreu, "É Luxo Só", de Ary Barroso e Luiz Peixoto, "Bolero de Satã", de Guinga e Paulo César Pinheiro, e "Começaria Tudo Outra Vez", de Gonzaguinha. Bônus de qualidade para um disco impecável.
Nelson Ayres Big Band
Em atividade há 45 anos, a big band comandada pelo maestro Nelson Ayres lança disco homônimo, que mistura jazz e música brasileira, em apresentação no Sesc Pinheiros, nesta sexta (13). A cantora Lívia Nestrovski participa do show.
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