Arthur Nestrovski e José Miguel Wisnik retomam o debate sobre o fim da canção em “Depois do Fim da Canção”, série documental que estreia nesta segunda-feira (16), às 21h, no Canal Arte 1.
“Isso diz respeito a uma entrevista que o Chico Buarque deu à Folha e que ficou famosa”, lembra Nestrovski, diretor artístico da Osesp.
Era 2004 e Chico, em Paris, em meio a reflexão sobre a dualidade dos fazeres de escritor e de compositor, afirmou: “Talvez tenha razão quem disse que a canção, como a conhecemos, é um fenômeno próprio do século passado”.
Questionado sobre a possibilidade de estar descrevendo um esgotamento histórico, o artista prosseguiu: “Como a ópera, a música lírica, foi do século 19, talvez a canção seja do século 20. Quando você vê um fenômeno como o rap, é de certa forma uma negação da canção”.
As reflexões de Chico ecoaram com força, e durante muito tempo, na musicologia.
Para Nestrovski, o artista foi mal-interpretado. “O que ele dizia é que o papel da canção, ou de certo tipo de canção popular no Brasil, já não tinha a pertinência que teve".
“Não se trata de um esgotamento do gênero canção, mas das mutações das canções no panorama brasileiro”, reforça Wisnik, compositor e professor da USP.
Em 2009, motivados pela ideia de esclarecer e aprofundar o debate, ambos fizeram uma série de aulas-shows intitulada “Fim da Canção” no Instituto Moreira Salles do Rio, na Gávea, que depois inspirou um programa da Rádio Batuta, também no IMS.
Em 2012, o material foi lançado em DVD pelo selo Sesc, com a adição à equipe do compositor Luiz Tatit e de banda com músicos como o paulistano Marcelo Jeneci.
Agora, em produção da Cine Group, eles atualizam o tema à luz da intensa produção da última década. “De lá pra cá, o mundo mudou, o próprio Chico lançou dois fulgurantes discos; hoje a discussão é outra”, afirma Nestrovski.
“O interesse agora é de rever o arco da música brasileira diante da eclosão do rap e do funk, desembocando na multiplicidade contemporânea”, afirma Wisnik.
A gama de autores debatidos é ampla, de Ary Barroso e Noel Rosa a Anitta e Emicida, passando por Elza Soares no recente “A Mulher do Fim do Mundo” (2015).
No primeiro dos oito episódios da série, os apresentadores recebem o soteropolitano Letieres Leite, fundador da Orkestra Rumpilezz, big band referencial no país pela mescla de jazz e arranjos percussivos inspirados no candomblé.
Outros convidados dos capítulos seguintes incluem a cantora Paula Morelenbaum, em conversa sobre a bossa nova, e Luiz Tatit, em programa sobre a geração de compositores pós-vanguarda paulista, nos anos 1980.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.