Descrição de chapéu

'O Tempo Não Para' estreia com agilidade e humor

Premissa ousada e execução primorosa marcaram o primeiro capítulo da novela

Tony Goes

O Tempo Não Para

O contraste foi gritante. Depois de quase sete meses na Idade Média solene e sombria de “Deus Salve o Rei”, o espectador da faixa das 19 horas da Globo voltou à leveza que sempre caracterizou o horário com “O Tempo Não Para”.

A ação do novo folhetim começa em 1868, em uma fazenda nas cercanias da cidade de São Paulo. A reconstituição do período é minuciosa, mas um elemento destoa —e, depois de um instante de estranheza, acaba trazendo irreverência às imagens. É a trilha sonora, composta por hits contemporâneos, muitos deles cantados em inglês.

Quase todo o primeiro capítulo se passa no século 19, mas o ritmo vertiginoso é próprio de um filme de ação. Dois personagens se destacam na família Machado, a proprietária da fazenda: a filha mais velha, Marocas (Juliana Paiva), rebelde como toda mocinha de novela de época deve ser; e o patriarca Dom Sabino (Edson Celulari, finalmente em um papel onde sua proverbial canastrice é bem-vinda).

Marocas abandona o noivo no altar, e seu pai, para afastá-la do falatório da vizinhança, embarca com todo o clã no navio Albatroz. O destino final é a Inglaterra, onde Sabino comprou um estaleiro.

 

Inexplicavelmente, o vapor faz um desvio pelos mares da Patagônia, onde colide com um iceberg e dá à Globo a chance de, mais uma vez, emular o filme “Titanic”.

Cento e cinquenta anos depois, um bloco de gelo vai dar à praia de Pernambuco, no Guarujá. Um surfista (Nicolas Prattes) se aproxima e vê congelados, lá dentro, os integrantes e os escravizados da família Machado.

Foi um começo excelente, em que o tempo realmente não parou: os acontecimentos foram se sucedendo muito rapidamente, sem nem dar tempo ao público de se maravilhar com os efeitos especiais.

A trama central é absurda, mas também é digna de um seriado americano. O autor Mário Teixeira, em sua primeira novela como autor principal —antes ele havia assumido o comando de “Liberdade, Liberdade” (2016), criada por Márcia Prates— demonstra ousadia e frescor, sem quebrar os cânones do gênero.

Claro que ainda é cedo para avaliar “O Tempo Não Para”. Daqui para a frente, a história se passa nos dias de hoje, e dezenas de personagens ainda serão apresentados. Há uma interessante promessa de crítica social: os negros da fazenda dos Machado descobrirão que são livres no século 21, mas que a escravidão ainda não desapareceu totalmente do Brasil.

Vamos ver se o desenrolar da trama mantém o pique da estreia.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.