Descrição de chapéu

'Primavera em Casablanca' amontoa clichês

Filme marroquino se vende como humanista, mas resulta em excesso de lugares-comuns

SÉRGIO ALPENDRE

Primavera em Casablanca (Razzia)

  • Quando Em cartaz
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Maryam Touzani, Arieh Worthalter, Amine Ennaji, Abdelilah Rachid, Dounia Binebine
  • Produção França/Marrocos/Bélgica, 2017
  • Direção Nabil Ayouch

Veja salas e horários de exibição

Não se deve cair no engano de julgar um filme pela geografia —"se é do Marrocos, só pode ser bom"— ou pela sociologia —"que sociedade injusta e machista, e que bom que alguém esteja denunciando isso".

São bobagens frequentes, cometidas por quem geralmente vê o cinema como mero entretenimento, uma instância menor, nunca uma arte com suas características e sua força estética.

O longa marroquino "Primavera em Casablanca", de Nabil Ayouch, é justamente um desses filmes que suscitam esse tipo de análise, digamos, sociologizante, contra a qual nos alertava o crítico literário, ensaísta e sociólogo Antonio Candido (1918-2017).

E, nesse caso, parece-me necessário apontar as falhas de mais este filme painel (que mal fez ao mundo o Oscar para "Crash"), que se vende como humanista, mas não passa de um amontoado de clichês, a despeito de um ou outro funcionar dentro da narrativa caleidoscópica.

Temos cinco personagens vivendo em Casablanca em duas épocas distintas. Em 1982 vive Abdallah (papel de Amine Ennaji), um professor idealista às voltas com o conservadorismo das autoridades. Em 2015, encontramos quatro outros personagens, dois homens e duas mulheres.

É de especial interesse o desafio das mulheres num mundo totalmente dominado pelo patriarcado. Salima (Maryam Touzani) e a adolescente Inès (Dounia Binebine) procuram sobreviver contra costumes arcaicos, como aquele que coíbe as mulheres de dançar ou fumar, assim como questionamentos sobre o despertar da sexualidade e a virgindade.

No caso dos homens, Joe (Arieh Worthalter) se divide entre seu restaurante e as dificuldades com as mulheres, enquanto Hakim (Abdelilah Rachid) sonha em ser um astro do rock para deixar aflorar sua idolatria por Freddie Mercury (falecido cantor do grupo Queen).

Nesse coquetel, temos algumas imagens emocionantes, como aquela em que Salima tira a maquiagem, mas a filmagem em reverso faz com que, poeticamente, ela pareça se maquiar na nossa frente, ou o momento "We Are the Champions", que só não é brega por algum milagre alcançado pela direção.

Em compensação, além do excesso de lugares-comuns, o filme apresenta vários finais, o que o deixa com a impressão de interminável. Fora a referência bem tola ao clássico "Casablanca" (1942), de Michael Curtiz, reiterada desnecessariamente.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.