Sequência de 'Sicário' traça ligações entre imigração ilegal e terrorismo

Longa explora possibilidade de cartéis mexicanos financiarem extremistas em outros continentes

Rodrigo Salem
Los Angeles

Nos primeiros minutos de "Sicário: Dia do Soldado", um grupo de imigrantes cruza ilegalmente a fronteira do México com os Estados Unidos. Um deles explode quando está prestes a ser capturado. Na cena seguinte, quatro homens-bombas devastam um supermercado em Kansas City, Missouri.

Em cartaz nos cinemas, a sequência do aclamado "Sicario: Terra de Ninguém" (2015) utiliza uma ideia inicial debatida constantemente na Europa e nos EUA: terroristas podem se disfarçar de refugiados e imigrantes ilegais.

"Não colocamos a cena para sermos polêmicos", diz o diretor Stefano Sollima ("Gomorra: La Serie"), que substitui Denis Villeneuve. "É um começo forte, que faz o espectador se sentir como se estivesse ali."

No entanto, em tempos de pais separados dos filhos pela política de tolerância zero de Donald Trump, a continuação pisa em terreno minado.

"O governo está começando a se comportar de forma cruel com essa medida. Algo precisa ser feito imediatamente, mas não acredito que o filme passe ideias erradas. É um suspense que pega emprestado aspectos da realidade, não uma declaração política", afirma à Folha o protagonista, Benicio del Toro, que faz o sicário Alejandro.

O ator Josh Brolin, que retorna como Matt Graver, o agente encarregado do trabalho sujo da CIA, não acredita que misturar terrorismo e imigração seja perigoso.

"Acho que há uma verdade no fato de terroristas poderem achar uma maneira mais fácil de cruzar as fronteiras", diz. "Mas o terrorismo no filme é uma distração proposital, que faz o espectador questionar quem são os verdadeiros vilões."

O roteiro de Taylor Sheridan —autor do original, com planos de uma trilogia com a volta da agente vivida por Emily Blunt, ausente nesta sequência— explora a possibilidade de cartéis financiarem células terroristas no Oriente Médio ou África.

"A confusão é criada quando o governo decide que os carteis são terroristas, então as regras do jogo mudam", conta Brolin, que faz o agente Graver.

Na trama, com aval da diretora da CIA (Catherine Keener) e ordem direta do Secretário de Defe (Matthew Modine), Graver recebe carta branca para criar uma guerra entre os dois maiores cartéis mexicanos. Para isso, recruta Alejandro para sequestrar a filha de um chefão --e coloca a culpa nos rivais locais.

"Sicário: Dia do Soldado", então, passa de um complexo thriller de guerra para um faroeste simples sobre a relação de Alejandro com a sequestrada, Isabela (Isabela Moner).

"Sicário: Dia do Soldado" injeta violência explícita com menos sutileza que o anterior. "Tento usar a violência de maneira inteligente e para ajudar a história, nunca para chocar. Gosto de deixar a plateia tremendo", conta Sollima, que diz ter recebido um email "fofo" de Villeneuve antes de começar a filmar. "Não fiquei intimidado porque sou maluco. Amo o primeiro longa, mas os produtores queriam algo diferente, uma trama isolada dentro de uma saga."

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