Trio Bolerinho, que não toca bolero, lança disco experimental após 11 anos

Grupo formado na Unicamp em 2007 versa sobre o feminino em álbum de financiamento coletivo

Victoria Azevedo
São Paulo

“Mas vocês tocam bolero?/ Je ne sais pas bolero.” A canção “Bolerê”, que encerra o disco de estreia do trio Bolerinho, brinca com o nome do grupo: a origem vem da peça de roupa —um tipo de casaco curtinho—, não do ritmo cubano.

É que Luisa Toller, 29, usava muito seu bolerinho na Unicamp, onde estudava. Foi na Universidade Estadual de Campinas que ela conheceu Maria Beraldo, 30, companheira de banda.

Criado em 2007, o trio tinha ainda Lívia Nestrovski na formação original, que acabou deixando o grupo porque se mudou para o Rio.

Foi aí que entrou Marina Beraldo Bastos, 33, irmã de Maria. Depois de 11 anos, o trio de cantoras, compositoras, instrumentistas e arranjadoras lança seu primeiro disco, “Bolerinho”. A partir desta sexta (20), ele estará disponível nas plataformas digitais.

Essa demora se deu por questões de orçamento e porque elas queriam compor especialmente para o grupo. 

Bolerinho
O trio Bolerinho lança o primeiro disco da carreira, homônimo - Pétala Lopes/Divulgação

Enquanto o disco não vinha, pesquisavam repertório para grupos vocais e criavam arranjos vocais sobre o cancioneiro popular, a partir de temas de Luiz Tatit e de Chico Buarque, entre outros.

Além disso, todas desenvolvem trabalhos paralelos. Maria, por exemplo, toca no Quartabê e acaba de lançar seu primeiro CD solo, “Cavala”.

Nesse meio-tempo, Marina se tornou mãe, foi construído o Estúdio Lebuá, onde gravaram o trabalho, e cada uma passou por um processo de “aprofundamento pessoal”. 

As letras versam sobre o feminino (maternidade, sexualidade, gênero e se descobrir feminista são exemplos), além de temas como morte, saúde e trabalho.

“A representatividade está super na moda, mas, às vezes, só ocupar um determinado lugar não transforma o discurso. Nós três somos muito militantes nas nossas vidas.” 

Para ela, apesar do empoderamento feminino estar em pauta, a realidade ainda não mudou estruturalmente porque “as discussões estão inscritas em espaços masculinos”.

Produzido por Mariá Portugal e Ivan Gomes, o CD reúne eletrônica, rock alternativo e experimentalismos. Elas bebem em fontes como o Clube da Esquina e a vanguarda paulista, além das “experimentadoras vocais” Björk, Maria João e Tune-Yards. Outra influência foi o álbum “Jóia” (1975), de Caetano Veloso.

Das dez faixas, sete são inéditas. “Da Menor Importância” e “Amor Verdade” estão no debut solo de Maria e “Necrópsia do Nosso Caso de Amor” foi o primeiro single, lançado em setembro. 

Há faixas e colaborações de Vitor Wutzki (“Necrópsia do Nosso Caso de Amor ” e “Vivi”), Giovanni Iasi (“Alumiada”), Thiago Melo (“Bolerê”) e Rafael de Menezes Bastos (“Bichin”), pai das irmãs Beraldo. 

O disco é fruto de financiamento coletivo. Entre as recompensas, estão aulas de canto infantil, polainas de tricô (feitas por Luisa) e sabonetes artesanais. 

“Se todo mundo que curte a nossa página tivesse doado R$ 10, teria sido mais fácil”, brinca. O conjunto possui 2.100 curtidas em sua conta no Facebook.

 

Bolerinho
Nas plataformas digitais nesta sexta, o CD tem distribuição da Tratore e apoio do Sêla e será lançado em show em SP em 24/8, no Sesc Avenida Paulista

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