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Artes Cênicas

'A Última Peça' entrelaça fios para criar potentes e belos efeitos

Montagem se estrutura em múltiplos planos, dos quais distinguem-se ficção, lembrança e esquecimento

Bruno Machado

A Última Peça

  • Quando Qui. a sáb., às 21h30, dom. às 18h30. Até 2/9
  • Onde Sesc Pompeia, r. Clélia, 93
  • Preço R$ 10 a R$ 60
  • Classificação 14 anos

“A Última Peça” se estrutura em múltiplos planos, dos quais distinguem-se ao menos três: ficção, lembrança e esquecimento. O intrincado texto de Inez Viana traz uma mulher com perda de memória em conflito com outro personagem (Thomas Quillardet).

Supostamente, ela o contratou como professor de francês para estimular as funções cerebrais. Em outra versão, ele é seu filho, de volta ao Brasil para cuidar da mãe doente.

A memória constrói os personagens numa relação marcada por um trauma. Para superá-lo, ambos confrontam diferentes versões de uma mesma história, como se a ficção fosse método terapêutico.

Ao tentar remediar a dor, os personagens buscam a reaproximação, num movimento que é também o de recuperar a identidade de si e do outro.

Se, por um lado, a maternidade é retratada de modo desapaixonado, por outro, o laço que une mãe e filho é recuperado pela presença de Ginete Duque, mãe de Inez, em cena.

Levar ao palco fatos ou pessoas da realidade frequentemente visa borrar fronteiras ou ficcionalizar o real. Neste espetáculo, Ginete faz o oposto: é a infiltração de um elemento real no plano da ficção.

O fluxo que tende da ruptura à união também se faz presente na direção de Danilo Grangheia. O espaço cênico, a iluminação e a trilha sonora sugerem formas descontínuas que, gradativamente, se conectam.

Os fios soltos da narrativa, pendentes do teto, ressurgem atados num novelo. 

Por mais camadas que “A Última Peça” apresente, elas são apenas uma. Tudo se resume à ficção. São fios que se entrelaçam, se justapõem e se confundem para criar potentes e belos efeitos.

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