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Álbum do trio Puelli resgata obra de Radamés Gnattali

Gravação ainda tem méritos pela qualidade da interpretação do grupo formado em 2009

CAMILA FRESCA

Radamés Gnattali: Integral das Obras para Piano, Violino e Violoncelo

  • Preço Disponível de graça no canal do Selo Sesc no YouTube
  • Gravadora Selo Sesc
  • Artista Trio Puelli

O nome talvez não seja desconhecido, mas dificilmente a música do gaúcho Radamés Gnattali (1906-1988) é familiar aos ouvidos. Ele iniciou a carreira como músico erudito, mas ganhou fama e reconhecimento como arranjador e regente da época dourada do rádio e das grandes gravadoras —sua entrada para a Rádio Nacional, em 1936, é considerada um marco na história da música popular, pelas inovações que introduziu nos arranjos.

A formação musical sólida permitia que atuasse também como pianista (seu sonho era ser concertista) e violista, além de compor.

A pianista Karin Fernandes (à esq., de pé), a violoncelista Ana de Oliveira (centro) e e a violinista Adriana Holtz, do trio Puelli, que se dedica a interpretar repertório dos séculos 20 e 21, sobretudo de compositores brasileiros, como Radamés Gnattali
A pianista Karin Fernandes (à esq., de pé), a violoncelista Ana de Oliveira (centro) e e a violinista Adriana Holtz, do trio Puelli - Dani Gurgel/Divulgação

Radamés teve uma trajetória particular, transitando entre mundos que não costumavam se misturar —o erudito e o popular. Se essa liberdade hoje pode ser vista com bons olhos, durante muito tempo acabou por prejudicar a carreira do músico, que teve a obra pouco valorizada.

Sua atuação pode ser comparada, em certa medida, à de Guerra-Peixe (1914-1993), igualmente compositor erudito e arranjador popular. Guerra, no entanto, conseguiu firmar seu nome na música de concerto. Muito, portanto, ainda há para ser conhecido da vasta obra de Radamés, que inclui concertos para violão dedicados a Garoto e Dilermando Reis ou de violoncelo para Iberê Gomes Grosso, bem como a série de Brasilianas ou as sinfonias.

Um pouco dessa lacuna é preenchida com o álbum do Trio Puelli (Karin Fernandes, Ana de Oliveira e Adriana Holtz). O grupo, formado em 2009, é especializado no repertório dos séculos 20 e 21, especialmente a música brasileira. Lançado pelo Selo Sesc, o disco registra pela primeira vez o Trio n.2 e Lenda n.2, além de trazer os trios n.1 e 3 e o Trio miniatura.

A audição conjunta permite algumas constatações. A primeira é a de que Radamés tinha grande intimidade tanto com os instrumentos de arco quanto com o piano, resultando em obras que, além de bem escritas, fluem com facilidade. E, embora abarquem cinco décadas de sua produção, os trios n.1 (1933), 2 (1967) e 3 (1984) têm em comum uma clara orientação nacionalista.

No caso de Radamés, é provável que isso se desse não só pela influência do projeto modernista de Mário de Andrade, mas também por sua intimidade com a música popular urbana, sendo ele orquestrador de alguns clássicos da música brasileira, como 'Aquarela do Brasil' (1939).

Além de importante pelo que significa na discografia brasileira e no resgate da obra de Radamés Gnattali, a gravação ainda tem méritos pela qualidade da interpretação do Trio Puelli.

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