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Cinema taiwanês dos anos 1980 é assunto de ciclo no Cinusp

Cenário registrou como um sismógrafo a percepção de transformações pelos indivíduos

Cena de ‘Os Terroristas’, de Edward Yang 
Cena de ‘Os Terroristas’, de Edward Yang  - Reprodução
Cássio Starling Carlos
São Paulo

Muito antes de a China continental acordar do sono maoísta e acionar seu incontrolável moedor de carne humana, Taiwan era a primeira origem dos produtos “made in China”. Por isso, o país foi também um posto avançado para observar as mutações subjetivas trazidas pelo liberalismo econômico.

O cinema feito no país a partir dos anos 1980 registrou como um sismógrafo a percepção dessas transformações pelos indivíduos. A mostra Mestres do Cinema de Taiwan, permite ver como o que parece estar longe no tempo e no espaço não se diferencia de como vivemos agora.

Os 17 longas de seis diretores reunidos pela curadora Cecilia Mello, especialista em cinema asiático, condensam a eclosão do fenômeno batizado na época de “nouvelle vague de Taiwan”. Edward Yang e Hou Hsiao-hsien são os chefes de fila da primeira geração, da qual também fazem parte Wang Toon e Sylvia Chang.

A seleção de “Os Garotos de Fengkuei”, de 1983, “Poeira ao Vento”, de 1987, e “A Filha do Nilo”, também de 1987, tem a vantagem de representar o cinema de Hou Hsiao-hsien livre do selo “obra-prima” ostentado por outros segmentos de sua obra. Os três são filmes de descoberta, em que Hou consolida o estilo contemplativo que o consagrou como um dos mestres da modernidade tardia.

Neles, o cineasta aplica ao cotidiano, e não ainda à memória, sua temporalidade hipnótica, revelando presente e futuro como pontos de interrogação. É na forma das narrativas, não nas mensagens, que esses filmes expressam um ponto de vista político.

A juventude desencantada dos filmes de Hou se completa nos painéis de desencontros compostos por Edward Yang. “História de Taipei”, de 1985, e “Os Terroristas”, de 1986, são críticas negativas à fragmentação urbana e humana, sinais de um tempo que não ficou datado, pois se intensificou.

A exibição do inédito “Aquele Dia na Praia”, de 1983, primeiro longa de Yang, amplifica a importância do ciclo como introdução à obra intensa e pouco conhecida do diretor.

Além deste, a mostra exibe ainda títulos inéditos de Wang Toon, diretor de comédias amargas, de Chang Tso-chi, que retrata a desintegração familiar, e de Sylvia Chang, que atualiza gêneros populares com a discussão de questões femininas.

A amplitude do ciclo se completa com a inclusão de dois nomes mais conhecidos. 

Ang Lee, que construiu em Taiwan, nos anos 1990, as bases de sua bem-sucedida carreira hollywoodiana. E Tsai Ming-liang, cuja obra também emerge na década de 1990 como prolongamento da vertente autoral da geração anterior e conecta a crise subjetiva contemporânea com o diagnóstico, igualmente pessimista, dado por Antonioni e Truffaut no apogeu da modernidade.
 

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